O Conde de Monte Cristo - Cap. 50: A família Morrel Pág. 489 / 1080

- Venha, venha - disse Maximilien. - Quero ser eu a apresentá-lo. Um homem como o senhor não deve ser anunciado por um criado. A minha irmã está no jardim a cortar as rosas murchas e o meu cunhado lê os seus dois jornais, la Presse e les Débats, a seis passos dela, porque por toda a parte em que se vê a Sr.ª Herbault basta olhar num raio de quatro metros para se descobrir o Sr. Emmanuel, e reciprocamente, como se diz na Escola Politécnica.

O ruído dos passos fez levantar a cabeça a uma jovem de vinte a vinte e cinco anos, de roupão de seda, que limpava com especial cuidado uma roseira cor de avelã. A jovem era a nossa Julie, que se tornara, como lhe predissera o mandatário da Casa Thomson & French, a Sr.ª Emmanuel Herbault. Soltou um grito ao ver o estranho. Maximilien desatou a rir.

- Não te aflijas, minha irmã - disse. - O Sr. Conde está em Paris apenas há dois ou três dias, mas já sabe o que é uma proprietária do Marais, e se não souber, tu ensinas-lhe.

- Ah, senhor - desculpou-se Julie -, trazê-lo assim é uma traição do meu irmão, que não tem para com a sua pobre irmã a menor consideração!... Penelon!... Penelon!...

Um velho que cavava um canteiro de roseiras-de-bengala espetou a enxada na terra e aproximou-se, de barrete na mão e dissimulando o melhor que podia um bocado de tabaco de mascar metido momentaneamente nas profundezas da boca.

Algumas madeixas brancas prateavam-lhe a cabeleira ainda espessa, enquanto o rosto bronzeado e o olhar maroto e vivo denunciava o velho marinheiro crestado pelo sol do equador e pelo sopro das tempestades.

- Creio que me chamou, Mademoiselle Julie. Cá estou.

Penelon conservara o hábito de chamar à filha do patrão Mademoiselle Julie e nunca conseguira adquirir o de a tratar por Sr.ª Herbault.

- Penelon - disse Julie -, vá avisar o Sr. Emmanuel da agradável visita que acaba de chegar, enquanto o Sr. Maximilien, acompanha o senhor à sala.

Depois, virando-se para Monte-Cristo:

- Permite-me que desapareça por um minuto, não é verdade? E, sem esperar o assentimento do conde, correu para trás de um maciço e alcançou a casa por uma alameda lateral.

- Lamento, meu caro Sr. Morrel - disse Monte-Cristo -, causar tamanha revolução na sua família.

- Veja, veja! - exclamou Maximilien rindo. - Veja além o marido, que também vai trocar o casaco por uma sobre casaca! Como vê, já o conhecem na Rua Meslay e pode considerar-se anunciado.

- Parece-me que tem aqui, senhor, uma família feliz - observou o conde, respondendo ao seu próprio pensamento.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069