O Conde de Monte Cristo - Cap. 53: Roberto, o diabo Pág. 528 / 1080

- É mais ou menos o que faço. Quando quero ouvir música admirável, visconde, música como nunca nenhum ouvido mortal ouviu, durmo.

- Nesse caso, está às mil maravilhas aqui! Durma, meu caro conde, durma. A ópera não foi inventada para outra coisa.

- Não, na realidade, a orquestra faz demasiado barulho. Para que durma o sono a que me refiro preciso de calma, silêncio e certa preparação...

- Ah, sim, o famoso haxixe!

- Justamente, visconde. Quando quiser ouvir música, vá cear comigo.

- Já a ouvi uma vez que fui tomar o pequeno-almoço consigo - redarguiu Morcerf.

- Em Roma?

- Sim.

- Ah, era a gusla de Haydée! Sim, a pobre exilada distrai-se algumas vezes a tocar canções do seu país.

Morcerf não insistiu mais. Pela sua parte o conde calou-se.

Neste momento a campainha tocou.

- Dá-me licença? - pediu o conde, retomando o caminho do seu camarote.

- Evidentemente!

- Dê muitas recomendações à condessa G... da parte do seu vampiro.

- E à baronesa?

- Diga-lhe que terei a honra, se me permitir, de a ir cumprimentar no outro intervalo.

Começou o terceiro acto. Durante ele o conde de Morcerf veio, como prometera, juntar-se à Sr.ª Danglars.

O conde não era de modo algum um desses homens que provocam alvoroço numa sala. Por isso, ninguém notou a sua chegada, excepto as pessoas em cujo camarote tomou lugar.

No entanto, Monte-Cristo viu-o e aflorou-lhe aos lábios um leve sorriso.

Quanto a Haydée, não via nada enquanto o pano estava levantado. Como todas as naturezas primitivas, adorava tudo o que impressiona o ouvido e a vista.

O terceiro acto decorreu como de costume. Mademoiselle Noblet, Júlia e Leroux executaram os seus saltos de dança habituais, o príncipe de Granada foi desafiado por Roberto-Mário e, finalmente, o majestoso rei, que o leitor conhece, deu a voltaà sala para mostrar o seu manto de veludo, levando a filha pela mão. Em seguida o pano desceu e a sala despejou-se imediatamente no foyer e nos corredores.

O conde saiu do seu camarote e um instante depois apareceu no da baronesa Danglars.

A baronesa não conteve um grito de surpresa. Levemente matizado de alegria.

- Entre, entre. Sr. Conde! - exclamou. - Sinceramente, tinha pressa de juntar os meus agradecimentos verbais aos que já lhe dei por escrito.

- Então, minha senhora, ainda se lembra dessa miséria? - protestou o conde. - Eu já a tinha esquecido.

- Pois sim, mas o que se não esquece, Sr. Conde, é que no dia seguinte salvou a minha boa amiga Sr.ª de Villefort do perigo que a faziam correr esses mesmos cavalos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069