O Conde de Monte Cristo - Cap. 62: Os fantasmas Pág. 601 / 1080

Os três jovens conversavam juntos. Olharam para o pai e para o filho, mas muito naturalmente os seus olhos detiveram-se mais tempo no último, que examinaram com minúcia.

- Cavalcanti... - disse Debray.

- Um belo nome - acrescentou Morrel. - Que figura!

- Sim - disse Château-Renaud -, é verdade, os italianos denominam-se bem, mas vestem-se mal.

- Você é difícil de contentar, Château-Renaud - contrapôs Debray. - Aquela casaca é de um excelente alfaiate e novinha em folha.

- É precisamente isso que lhe critico Aquele cavalheiro tem ar de quem se veste assim hoje pela primeira vez.

- Quem são aqueles senhores? - perguntou Danglars ao conde de Monte-Cristo.

- Bem ouviu: são os Cavalcanti.

- Fico esclarecido quanto ao nome, mas mais nada.

- É verdade, o senhor não está ao corrente da nossa nobreza de Itália. Quem diz Cavalcanti diz estirpe de príncipes.

- Boa fortuna? - perguntou o banqueiro.

- Fabulosa.

- Que fazem?

- Procuram gastá-la sem o conseguirem. Aliás, têm créditos sobre o senhor, segundo me disseram quando me visitaram anteontem. Convidei-os até em sua intenção. Hei-de apresentar-lhos.

- Mas parece-me que falam muito correctamente o francês - observou Danglars.

- O filho foi educado num colégio do Meio-Dia, em Marselha ou nos arredores, creio. Verá pelo seu entusiasmo.

- A propósito de quê? - perguntou a baronesa.

- Das francesas, minha senhora. Está absolutamente decidido a casar em Paris.

- Que rica ideia! - exclamou Danglars, com desdém, encolhendo os ombros.

A Sr.ª Danglars fitou o marido com uma expressão que em qualquer outro momento pressagiaria tempestade, mas pela segunda vez calou-se.

- O barão parece hoje muito sombrio - observou Monte-Cristo à Sr.ª Danglars. - Por acaso terão querido fazê-lo ministro?

- Ainda não, que eu saiba. Creio antes que jogou na Bolsa, que perdeu e que não sabe como se justificar.

- O Sr. e a Sr.ª de Villefort! - gritou Baptistin.

As duas pessoas anunciadas entraram. O Sr. de Villefort, apesar do seu domínio sobre si mesmo, estava visivelmente impressionado. Quando lhe apertou a mão, Monte-Cristo sentiu-a tremer.

«Decididamente, não há como as mulheres para saberem dissimular», disse Monte-Cristo para consigo, vendo a Sr.ª Danglars sorrir ao procurador régio e beijar a mulher deste.

Depois dos primeiros cumprimentos, o conde viu Bertuccio, que, ocupado até ali do lado da copa, se esgueirava para uma salinha contígua àquela onde se encontravam.

Foi ter com ele.

- Que deseja, Sr. Bertuccio? -perguntou-lhe.

- V. Ex.a não me disse quantos convidados eram.

- Ah, é verdade!

- Quantos talheres?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069