O Conde de Monte Cristo - Cap. 10: O gabinetezinho das Tulherias Pág. 76 / 1080

Sire, o usurpador armou três navios.

Medita qualquer projeto, talvez insensato, mas também terrível, por mais insensato que seja. A esta hora deve ter deixado a ilha de Elba. Para ir aonde? Ignoro, mas com certeza para tentar um desembarque, quer em Nápoles, quer nas costas da Toscana, quer mesmo em França. Vossa Majestade não ignora que o soberano da ilha de Elba conservou relações com a Itália e com a França.

- Sim senhor, bem o sei - declarou o rei, muito impressionado - e ainda recentemente me avisaram de que se realizavam reuniões bonapartistas na Rua de Saint-Jacques. Mas continue, peço-lhe. Como soube desses pormenores?

- Sire, são o resultado de um interrogatório a que submeti um homem de Marselha que vigiava havia muito tempo e que mandei prender no próprio dia da minha partida. Esse homem, marinheiro turbulento e de um bonapartismo que se me tornou suspeito, esteve secretamente na ilha de Elba, onde falou com o grande marechal, que o encarregou de uma missão verbal para um bonapartista de Paris cujo nome não consegui obrigá-lo a dizer. Mas a missão consistia em encarregar esse bonapartista de preparar os espíritos para um regresso (note que estou a reproduzir o interrogatório. Sire), para um regresso que não pode deixar de estar próximo.

- E onde está esse homem? - perguntou Luís XVIII

- Na prisão, Sire.

- E o caso pareceu-lhe grave?

- Tão grave, Sire, que tendo-me surpreendido no meio de uma festa de família, no próprio dia do meu noivado, deixei tudo, noiva e amigos, adiei tudo para outra altura, a fim de vir depor aos pés de Vossa Majestade, juntamente com os meus temores, a certeza da minha dedicação.

- De facto - disse Luís XVIII -, não havia um projeto de união entre o senhor e Mademoiselle de Saint-Méran? - A filha de um dos mais fiéis servidores de Vossa Majestade.

- Sim, sim. Mas voltemos a essa conspiração, Sr. de Villefort.

- Sire, receio que seja mais do que uma conspiração...

- Nestes tempos - disse o rei, sorrindo -, uma conspiração é coisa fácil de planear, mas mais difícil de conduzir ao seu fim, exatamente porque recolocados há pouco tempo no trono dos nossos antepassados, temos os olhos abertos ao mesmo tempo para o passado, para o presente e para o futuro. Há dez meses que os meus ministros redobram de vigilância para que o litoral do Mediterrâneo esteja bem guardado. Se Bonaparte desembarcasse em Nápoles, a coligação em peso estaria em pé de guerra antes de ele chegar sequer ao Piombino. Se desembarcasse na Toscana, poria o pé em território inimigo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069