O Conde de Monte Cristo - Cap. 82: O assalto Pág. 795 / 1080

Entretanto, o homem, como não ouvisse mais nada, endireitara-se e, enquanto Monte-Cristo operava a sua metamorfose, fora direito à secretária, cuja fechadura começava a ranger sob a acção do seu «rouxinol»

- Bom - murmurou o conde, que decerto confiava nalgum segredo de serralharia que devia ser desconhecido do arrombador de portas, por mais hábil que fosse -, bom, tens para uns minutos...

E dirigiu-se para a janela.

O homem que vira subir para um marco descera e continuava a passear na rua. Mas, coisa singular, em vez de se preocupar com quem pudesse vir quer pela Avenida dos Campos Elísios, quer pelo Arrabalde de Saint-Honoré, só parecia preocupar-se com o que se passava em casa do conde, e todos os seus movimentos tinham por fim ver o que estaria a acontecer no gabinete.

De súbito, Monte-Cristo bateu na testa e deixou errar pelos lábios entreabertos um sorriso silencioso.

Depois, aproximou-se de Ali e disse-lhe:

- Fica aqui escondido no escuro, e seja qual for o barulho que ouças, seja o que for que aconteça, só entras e só te mostras quando te chamar pelo teu nome.

Ali fez sinal com a cabeça de que compreendera e obedeceria.

Então, Monte-Cristo tirou de um armário uma vela, acendeu-a, e, no momento em que o ladrão estava mais ocupado com a fechadura, abriu suavemente a porta, tendo o cuidado de fazer com que a luz que segurava na mão lhe batesse em cheio na cara.

A porta girou tão suavemente que o ladrão não a ouviu. Mas, com grande surpresa sua, viu o quarto iluminar-se de súbito.

Virou-se.

- Boas noites, caro Sr. Caderousse - disse Monte-Cristo. Que diabo veio fazer aqui a semelhante hora?

- O abade Busoni! - gritou Caderousse.

E ignorando como aquela estranha aparição chegara até ele, uma vez que fechara as portas, deixou cair o molho de chaves falsas e ficou imóvel e como que fulminado de espanto.

O conde foi-se colocar entre Caderousse e a janela, cortando assim ao ladrão aterrorizado o seu único meio de retirada.

- O abade Busoni! - repetiu Caderousse, cravando no conde os olhos esbugalhados.

- Sim, não há dúvida que sou o abade Busoni, em pessoa - confirmou Monte-Cristo -, e folgo muito por me ter reconhecido, meu caro Sr. Caderousse. Isso prova que temos boa memória, pois, se me não engano, há pelo menos dez anos que nos não víamos.

Esta calma, esta ironia, esta força, causaram no espírito de Caderousse um terror indescritível.

- O abade! O abade! - murmurou crispando os punhos e batendo os dentes.

- Com que então, queremos roubar o conde de Monte-Cristo... - continuou o pretenso abade.

- Sr. Abade - murmurou Caderousse, procurando alcançar a janela que o conde lhe interceptava implacavelmente.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069