O Conde de Monte Cristo - Cap. 84: Beauchamp Pág. 809 / 1080

- Perdoe-me dizer-lhe o que lhe digo, meu amigo: esse homem é o seu pai!

Albert fez um gesto furioso para se atirar a Beauchamp, mas este conteve-o muito mais com um olhar afectuoso do que com a mão estendida.

- Veja, meu amigo - disse, tirando um papel da algibeira. - Aqui tem a prova.

Albert abriu o papel. Era uma declaração de quatro habitantes notáveis de Janina, segundo a qual o coronel Fernand Mondego, coronel instrutor ao serviço do vizir Ali-Tebelin, entregara o castelo de Janina em troca de duas mil bolsas. As assinaturas estavam reconhecidas pelo cônsul.

Albert cambaleou e caiu esmagado numa poltrona. Desta vez não havia qualquer dúvida, o nome de família estava ali com todas as letras.

Por isso, após um momento de doloroso silêncio, o coração dilatou-se-lhe, as veias do pescoço engrossaram-lhe e uma torrente de lágrimas brotou-lhe dos olhos.

Beauchamp, que observara com profunda compaixão a forma como Albert cedia ao paroxismo da dor, aproximou-se dele.

- Albert - disse-lhe -, compreende-me agora, não é verdade? Quis ver e julgar tudo por mim, esperando que a explicação fosse favorável ao seu pai e que lhe pudesse prestar toda a justiça. Mas, pelo contrário, as informações colhidas confirmam que esse oficial instrutor, que esse Fernand Mondego elevado por Ali-Paxá ao cargo de general-governador, não é outro senão o conde Fernand de Morcerf. Então voltei, recordando a honra que você me concedera admitindo-me entre os seus amigos, e corri para sua casa.

Albert, sempre estendido na sua poltrona, tapava os olhos com as mãos, como se quisesse impedir a luz de bater neles.

- Corri a sua casa - continuou Beauchamp - para lhe dizer: «Albert, as culpas dos nossos pais, nestes tempos de acção e reacção, não podem atingir os filhos. Albert, muito poucos atravessaram as revoluções no meio das quais nascemos sem que alguma nódoa de lama ou de sangue não tenha conspurcado o seu uniforme de soldado ou a sua toga de juiz. Albert, ninguém no mundo, agora que tenho todas as provas, agora que sou senhor do seu segredo, me pode forçar a um combate, que a sua consciência, estou certo disso, lhe censuraria como um crime. Mas o que você já não pode exigir de mim venho eu oferecer-lhe. Quer que estas provas, estas revelações, estas declarações que só eu possuo desapareçam? Quer que este segredo horrível fique entre nós? Confiado à minha palavra de honra, nunca sairá da minha boca. Diga, quer, Albert? Diga, quer que façamos isto, meu amigo?»

Albert lançou-se ao pescoço de Beauchamp

- Ah, nobre coração! - exclamou.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069