O Conde de Monte Cristo - Cap. 94: A confissão Pág. 885 / 1080

Capítulo XCIV - A confissão

No mesmo instante ouviu-se a voz do Sr. de Villefort, que gritava do seu gabinete:

- Que se passa?

Morrel consultou com o olhar Noirtier, que acabava de recuperar todo o seu sangue-frio e num relance de olhos lhe indicou o gabinete onde já uma vez, em circunstâncias mais ou menos semelhantes, o rapaz se escondera.

Só teve tempo de pegar no chapéu e correr para lá, arquejante. Já se ouviam os passos do procurador régio no corredor.

Villefort precipitou-se no quarto, correu para Valentine e tomou-a nos braços.

- Um médico! Um médico!... O Sr. de Avrigny! - gritou Villefort. - Ou antes, vou eu mesmo buscá-lo.

E correu para fora da sala.

Pela outra porta corria Morrel.

Acabava de ser ferido no coração por uma horrível lembrança: a conversa entre Villefort e o médico que ouvira na noite da morte da Sr.ª de Saint-Méran, e que lhe acudia agora à memória. Aqueles sintomas, num grau menos assustador, eram também os mesmos que haviam precedido a morte de Barrois.

Ao mesmo tempo, parecera-lhe sussurrar-lhe ao ouvido a voz de Monte-Cristo quando lhe dissera, havia apenas duas horas: «Se precisar de alguma coisa, Morrel, venha ter comigo. Eu posso muito...»

Mais rápido do que o pensamento, correu portanto do Arrabalde Saint-Honoré para a Rua Matignon e da Rua Matignon para a Avenida dos Campos Elísios.

Entretanto, o Sr. de Villefort chegava num cabriolé de praça à porta do Sr. de Avrigny. Tocou com tanta violência que o porteiro veio abrir com ar assustado. Villefort correu para a escada sem forças para falar. Mas o porteiro conhecia-o e deixou-o passar, gritando apenas:

- No gabinete, Sr. Procurador Régio! No gabinete! Villefort empurrava já, ou antes, metia a porta dentro.

- Ah, é o senhor!... - exclamou o médico.

- Pois sou - respondeu Villefort fechando a porta atrás de si. - Pois sou, doutor, sou eu que lhe venho perguntar agora se estamos bem sós. Doutor, a minha casa é uma casa amaldiçoada!

- O quê, tem mais alguém doente? - perguntou o médico com aparente frieza, mas com profunda emoção interior.

- Tenho, doutor! - gritou Villefort, agarrando com a mão convulsa um punhado de cabelos. - Tenho!

O olhar de Avrigny significou: «Tinha-lho predito..»

Depois os seus lábios proferiram lentamente estas palavras:

- Quem vai morrer em sua casa e que nova vítima nos vai acusar de fraqueza perante Deus?

Um soluço doloroso brotou do coração de Villefort. Aproximou-se do médico, agarrou-lhe o braço e respondeu:

- Valentine! Chegou a vez de Valentine!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069