O Conde de Monte Cristo - Cap. 107: O covil dos leões Pág. 997 / 1080

- Sou - dizia ele - evidentemente protegido por alguém poderoso; tudo mo prova. Aquela fortuna súbita, a facilidade com que aplanei todos os obstáculos, uma família improvisada, um nome ilustre tornado meu, o ouro chovendo sobre mim, as alianças mais magníficas prometidas à minha ambição... Um infeliz esquecimento da minha sorte, uma ausência do meu protector perdeu-me, sim, mas não por completo nem para sempre! A mão retirou-se por um momento, mas deve estender-se para mim e agarrar-me de novo quando me julgar prestes a cair no abismo.

»Porque arriscaria um passo imprudente? Talvez me alienasse o protector! Tem duas maneiras de me tirar de apuros: a evasão misteriosa, paga a peso de ouro, e forçar a mão aos juízes para obter uma absolvição. Esperemos para falar, para agir, que me seja provado que me abandonaram por completo, e então...

Andrea traçara um plano que se podia considerar hábil; o miserável era intrépido no ataque e duro na defesa. Suportara a miséria, da prisão comum, as privações de todo o género, no entanto, pouco a pouco, o natural, ou antes o hábito, voltara à superfície. Andrea sofria por andar nu, sujo e faminto, a espera prolongava-se.

Foi nesse momento de desânimo que a voz do inspector o chamou ao parlatório.

Andrea sentiu o coração pular-lhe de alegria. Era demasiado cedo para se tratar da visita do juiz de instrução e demasiado tarde para ser uma chamada do director da prisão ou do médico. Era portanto a visita esperada.

Através do gradeamento do parlatório, onde foi introduzido, viu, com os olhos dilatados por uma curiosidade ávida, o rosto sombrio e inteligente do Sr. Bertuccio, que olhava também, mas com uma espécie de surpresa dolorosa, as grades, as portas aferrolhadas e a sombra que se agitava atrás dos varões entrecruzados.

- Ah! - exclamou Andrea, impressionado.

- Bons dias, Benedetto - disse Bertuccio na sua voz cava e sonora.

- O senhor! O senhor! - exclamou o rapaz, olhando com terror à sua volta.

- Não me reconheces, pobre criança? - perguntou Bertuccio.

- Silêncio! Mas silêncio mesmo! - ordenou Andrea, que conhecia a finura de ouvido das paredes. - Meu Deus, meu Deus, não fale tão alto!

- Gostarias de conversar comigo a sós, não é verdade? - perguntou Bertuccio.

- Oh, sim! - respondeu Andrea.

- Está bem.

E Bertuccio procurou qualquer coisa na algibeira e fez sinal a um guarda que se encontrava atrás do vidro do guiché.

-Leia - disse.

- Que é isso? - perguntou Andrea.

- Ordem para te conduzirem a um quarto, te instalarem e deixarem-me comunicar contigo.

- Oh! - exclamou Andrea, pulando de alegria.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069