Ora isto em Lisboa fez razoável impressão, especialmente no espírito observador dos gaiatos. Um destes desbragados ousou chamar gebo ao legislador; e outro levou a gandaíce ao extremo de planear-lhe um assalto ao chapéu.
Fartas vezes o advertira o abade de Estevães da necessidade de reformar o vestido, e entrajar-se conforme o costume. Calisto respondia que não tinha que entender em costumes, que não fossem, em lusitaníssima frase, ruins costumes. Quanto a vestiduras, dizia que o estofo das suas era português como ele, e o feitio delas era o que mais se aproximava das usanças dos seus maiores, os quais andavam mais apontados no trajar do espírito que nas galanices do corpo. Salvo o abade, ninguém se atrevia a contrariá-lo, desde que um jovem deputado, que lhe observou o arcaísmo do trajo, perguntou se ele era o alfaiate da Câmara, ou se as modas tinham fiscal subsidiado no Parlamento.
Aconteceu ainda que outro deputado lhe analisasse galhofeiramente as botas aguçadas no bico. Sabia Calisto Elói que este deputado era filho de um sujeito de Esposende que começara sua vida fazendo botas. Assim, pois, que o chocarreio subiu da análise das botas para a das polainas da calça, teve mão dele, dizendo-lhe: «Agora, alto aí! Enquanto o senhor escarneceu o feitio das minhas botas, estava no seu ofício e no seu direito. Das botas acima, não.