Um deputado do Porto: — Peço a palavra.
O orador continuando:
— De que desconhecida lua choveu ouro sobre estes peraltas enluvados e encalamistrados que pejam os teatros, praças, e botequins de Lisboa? Foi para estes tempos que um sábio e claro varão de outro século escreveu: «Desde o bico do pé até à cabeça anda um destes cavalheiros bizarros (ou qualquer destes bizarros ainda que não sejam cavalheiros) armado de vaidade e de estudos de sua compostura, que são cativeiros de espírito, corrupções dos costumes, da república, e despesas da sua fazenda, ou talvez da fazenda que não é sua». Aqui é que bate o ponto: da fazenda que não é sua. À custa de quem se vestem estes Narcisos e Adónis? Que incógnitos veios de ouro exploram? Qual é a sua arte, se não devo antes perguntar quais sejam suas manhas ou ronhas? Que sabe a polícia deles?
E eu já vi, Sr. presidente, andarem as senhorias e excelências, as pobres esfarrapadinhas, por meio destes peralvilhos, que saem de casa do alfaiate com o foro grande e o desaforo maior. Que desbarato e corruptela é esta dos tratamentos em Lisboa? Abandalha-se tudo para passar a rasoira por sobre um lamaçal plano? Isso é congruente; mas então tapem lá o roto cofre das graças, que a toda a hora nos está despejando coroas e veneras, cruzes e mais cruzes, cruzes onde a honra de Portugal geme cravejada!