Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 20: XX - O Doente e o doutor Pág. 111 / 174

- Mas sua senhora, se não houve divórcio nem escritura especial, deve partilhar da sua herança, penso eu.

- Isso é cá uma história que eu contarei ao meu amigo doutor Costa. Minha mulher... minha ou lá do diabo de quem é, não há de receber uma pataca, se eu for adiante dela. Quando me apartei, desfiz-me de tudo; isto é, dispus a minha fortuna de jeito e com tais artes que ela não acha coisa a que deite as unhas.

- E tem ela recursos de que viva, depois que vossa senhoria a deixou?

- Não sei, nem quero saber. Dizem que o pai é rico; mas ele faz tanto caso dela como eu.

- Desculpe-me fazer-lhe uma pergunta...

- Pergunte o que quiser; que eu já não me importa falar nisto. Deitei o coração ao largo, e, como o outro que diz, leve o diabo paixões e mais quem com elas medra. Gosto do cavaco. Que queria o Sr. doutor saber?

- Se teve razões para privar inteiramente de recursos sua senhora. Às vezes acontece um homem, na sua posição de atraiçoado pela esposa, cavar mais fundos abismos à sua honra, atirando a culpada ao meio da sociedade, como que diz: “Aí vai uma mulher que eu podia salvar da extrema miséria... Levem-na à última paragem do vício!”

- Não que eu quis salvá-la - acudiu o doente - mas ela não quis. Dava-lhe que comer num convento, e a doida saiu pela porta fora, descompondo os meus amigos.

- E foi viver com o amante, ou esse mesmo a abandonou?

- Isso não sei. Eu o amante não lho conheci, nem sei quem fosse.

- Não sabe?! Então com que provas se julgou traído?... Desculpe...

- As provas foi ela gastar dinheiro grosso sem dizer no quê: disse que o dera, e acabou-se. Pois a quem dava ela o dinheiro?

- Era velha sua mulher?

- Nada: era uma rapariga bonita, bonita duma vez. Não tinha de seu; apaixonei-me pelo palmo da cara, e casei.





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