- Noronha?! - exclamou Francisco José da Costa, cravando os olhos pávidos no brasileiro.
- Sim, um general Noronha, que vivia em Ponte do Lima... Minha mulher era filha dele...
- Como se chama essa senhora? - interrompeu o facultativo respirando dificilmente.
- Ângela.
Francisco Costa, espaço de três minutos, ficou num espasmo e torpor de pensamento e ação. Aos olhos do brasileiro aquele ar espantado significava estar o doutor recordando-se de ter conhecido o general ou a filha.
- Talvez que o Sr. doutor visse alguma vez minha mulher no Porto... - prosseguiu Hermenegildo. - Eu morava na Rua do Bispo, numa casa de azulejo de quatro andares... Vossa senhoria está incomodado? - disse o doente, notando extraordinária mudança no rosto do médico. - Parece que está a enfiar!...
- Não, senhor. Estou bom... estava a ouvi-lo, e a lembrar-me... que não me é estranho o nome do general e da filha... Donde era sua senhora?
- De Viana, cuido eu.
- Mas eu tinha ouvido contar que uma filha do general Noronha casara na província do Minho...
- Foi comigo; eu estava então na minha quinta dos Choupos. Lá é que foi dar a tal senhora porque era amiga de minha irmã, que tinha estado no mesmo convento com ela, e eu fiz a grande burricada de casar, sem pedir informações a ninguém.
- E depois mudaram para o Porto? Em que ano?
- Em 1840.
- E foi no Porto que o Sr. Fialho teve razões para suspeitar da lealdade de sua senhora?
- Sim, senhor.
- Mas já me disse que não conhecia o amante, nem tinha a certeza de que ela o tivesse...
- Lá conhecê-lo, não conheci; mas a quem dava ela o dinheiro? A minha casa não ia homem de suspeita. Ela não se visitava com fôlego vivo.