Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 13: XIII – Desamparo Pág. 64 / 174

Tinha a casa em que vivia, e os gêneros de sua loja a pagamento de prazo. Ofereceu a casa. Penhoraram-lha. Os credores confluíram. Fecharam-lhe a loja. E dez dias depois o coveiro fechou-lhe a sepultura. “Morro desonrado, e deixo-te a pedir e mais teu irmão” exclamou ele, desde que o ameaçou a congestão cerebral até que pendeu a cabeça aos braços da esposa, e expirou.

Chegou a notícia do sucesso triste ao mosteiro. D. Ângela verteu acerbas lágrimas, e tomou como sobrecarga de angústias e responsabilidade da morte do merceeiro, e a desgraça de viúva e do cunhado.

Francisco José da Costa recebeu a um tempo a notícia da fuga e reclusão de Ângela, a da penhora e falência, a da doença e provável morte do cunhado. Partiu para Viana. Quando chegou, Joana assistia de joelhos ao ato de sacramentar-se o marido. Francisco não ajoelhou. Naquele estacar imóvel diante do espetáculo lúgubre, havia o que quer que fosse pior que a condição do moribundo. Vê-lo era compreender as palavras plangentes dum escritor celebrado: “A vida morta ficou sepultada no corpo vivo”.

Fechada a sepultura de José Maria, a viúva ajoelhou à beira do leito do irmão.

- Não morras, que eu não tenho outro amparo! - lhe clamara ela.

- Qual amparo?! - murmurou ele.

- Trabalharemos, meu irmão! Vê que sou mulher, e não desespero! Vê que dores me traspassam, Francisco! E vivo, e vivo, meu querido irmão! Lembra-te da coragem da infeliz menina!... Não sejas tu o mais fraco de tantos desgraçados, já que...

- Já que foste a causa... - completou o moço a frase, e rompeu em choro desfeito.

Depois, sentou-se no leito, fincou os dedos recurvos na fronte, e disse:

- Pois sim: trabalharemos.

E, volvidos poucos dias, Joana e Francisco saíam para o Porto, com quanto dinheiro possuíam: o urgente para a alimentação de oito dias.





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