- Você está aqui desde as nove horas desta manhã? - perguntou Corentin a Violette.
- Não, peço desculpa. Desde ontem à tarde que não saio daqui e nada ganhei com isso: quanto mais ele me faz beber, mais me encarece os seus bens.
- No mercado, quem levanta o cotovelo faz subir o preço - disse Corentin.
Uma dúzia de garrafas vazias, alinhadas no topo da mesa, confirmavam o dito da velha. Nesta altura o gendarme acenou lá de fora a Corentin, e disse-lhe, ao ouvido, no limiar da porta:
- Na cavalariça não está nenhuma montada.
- Se levou o seu pequeno a cavalo à aldeia - disse Corentin, quando voltou à sala - não deve tardar.
- Não, meu senhor - tornou-lhe Marta -, ele foi a pé.
- Então que é feito do vosso cavalo?
- Emprestei-o - disse Michu, num tom seco.
- Venha cá, bom apóstolo - articulou Corentin, falando ao administrador -, tenho duas palavras a dizer-lhe ao ouvido.
Corentin e Michu saíram.
- A carabina que você carregava ontem às quatro horas da tarde era destinada para matar o conselheiro de Estado; Grévin, o notário, viu-o; mas nada lhe podemos fazer a esse respeito; houve muita intenção e poucas testemunhas. Não sei lá como você adormeceu o Violette nem como você, a sua mulher e o seu garoto, todos passaram a noite fora de casa para avisarem a Menina de Cinq-Cygne da nossa chegada e proporcionarem fuga aos seus primos, que você trouxe para aqui, ainda não sei para onde. O seu filho ou a sua mulher atiraram a terra o brigadeiro com bastante graça. Enfim: vocês levaram a melhor. Um pândego de estalo. Mas ainda não dissemos tudo, não ficaremos a perder. Está disposto a transigir? Os seus amos só têm a ganhar com isso.
- Venha para aqui; poderemos falar sem sermos ouvidos - disse Michu, levando consigo o espião até perto do tanque, no parque.