Um Caso Tenebroso - Cap. 21: XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR Pág. 223 / 249

Apresentou a assinatura em branco de Michu; o Senhor de Granville pegou no documento e observou-o.

- Não o podemos suprimir; mas fique ciente disto: se pedir tudo não conseguirá nada.

- Teremos tempo de consultar Michu? - perguntou Bordin.

- Têm. A ordem para a execução depende do Procurador-Geral, e podemos adiá-la por alguns dias. Os homens matam-se - acrescentou ele, com uma certa amargura - mas isso é feito com método, sobretudo em Paris.

O Senhor de Chargeboeuf já tivera conhecimento, através do juiz supremo, de algumas informações que conferiam um peso enorme àquelas tristes palavras do Senhor de Granville.

- Michu está inocente, eu bem o sei - continuou o magistrado -; mas que podemos nós fazer contra toda a gente? E lembrem-se de que hoje o meu papel é calar-me. Terei de mandar levantar o cadafalso onde o meu antigo cliente será decapitado.

O Senhor de Chargeboeuf por de mais conhecia Laurence para saber que ela não consentiria salvar os seus primos com o sacrifício de Michu. O marquês fez, pois, uma derradeira tentativa. Requerera uma audiência ao ministro das relações exteriores, para saber se existiria uma forma de salvação na alta diplomacia. Levou consigo Bordin, que conhecia o ministro, a quem prestara alguns serviços. Os dois velhos foram encontrar Talleyrand absorto na contemplação das chamas da sua lareira, os pés estendidos para o lume. a cabeça apoiada na mão, o cotovelo na mesa, o jornal no sobrado. O ministro acabava de ler a rejeição do tribunal de recurso.

- Tenha a bondade de se sentar, senhor marquês - disse o ministro. - E o Senhor Bordin - acrescentou, apontando-lhe uma cadeira diante dele, na sua mesa - escreva:

«Sire,

«Quatro gentis-homens inocentes, declarados culpados pelo júri, acabam de ver a sua condenação confirmada pelo vosso tribunal de recurso.





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