As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 17: XVII Pág. 112 / 332

- Já não está em idade para tanto, Sr. Doutor.

- Fie-se nele, fie-se nele; olhe que são os piores.

E, dando uma gargalhada, dobrou a esquina e tomou por outra rua.

Do interior de um pardieiro saiu-lhe ao encontro uma rapariga do povo, magra, remendada e com o rosto que denotava aflição.

- Muito boas-tardes, Sr. João Semana - disse a pobre rapariga, com voz chorosa.

- Que temos lá, Maria? alguma novidade?

- É que... - dizia ela hesitando e baixando os olhos.

- Fala; despacha-te, que vou com pressa.

- É que me esqueci do que me disse daquele remédio para minha mãe...

- Então onde diabo tinhas tu o juízo, galo doido? Ai que vocês andam-me com essas cabecinhas não sei por que terras, e eu que vos ature depois. Aposto que te lembras melhor do que te disse ontem o teu conversado?

- Ora, o Sr. João Semana tem coisas! É que não sei se o remédio era todo para uma vez, ou...

- É o que eu te digo; é o que eu te digo. Estouvada! cabeça no ar! Quantas vezes te repeti que era para três porções. Cuidas que não tenho mais que fazer, do que andar sempre a cantar a mesma cantiga por esse mundo de Cristo? Ora vamos!

- E há-de ser distante das comidas, que?...

- Que diabo aprendeste tu então de tudo o que te recomendei, fazes favor de me dizer? Pois não te expliquei, cabeça de bugalho, que era para lho dares, meia hora depois das comidas? Que tinhas tu nos ouvidos?

- Muito agradecido, Sr. João Semana; e perdoe por as almas, mas... a gente tem tanta coisa na cabeça...

- Valha-te uma figa.

E quando a rapariga se ia já a retirar, ele acrescentou, mudando de tom:

- Olha cá, ó Maria. Ouves?

A rapariga voltou-se. Levava os olhos vermelhos de chorar.

- Então que diabo é isso? Porque choras tu?

- Nada, Sr.





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