As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 34: XXXIV Pág. 242 / 332

Naquele estado a pulsação febril das artérias das fontes impediu-o de escutar mais nada; o coração palpitava-lhe tão agitado, que o ouvia bater.

O som de vozes tornava-se mais audível, como se se aproximassem da porta as pessoas que assim conversavam.

Pedro levou maquinalmente a mão ao gatilho da espingarda e ficou à espera, com a vista fixa e a respiração reprimida. Era terrível o seu olhar naquele momento!

Ouviu-se o voltar da chave na fechadura, a porta moveu-se lentamente e um diálogo, travado a meia voz, chegou aos ouvidos de Pedro; mas a energia da vertigem, que lhe tomara os sentidos, não lho deixava perceber, senão de maneira confusa.

- Foi para lhe dizer isto, só para lhe dizer isto, que consenti em ouvi-lo aqui - dizia uma voz feminina. - Bem vê que seria uma loucura, se continuasse; mais do que uma loucura, seria um pecado até. Agora espero que cumpra a sua promessa. Mostre que é homem de bem. Adeus.

- Adeus - respondeu-lhe outra voz. - E perdoe-me se não posso ainda dizer friamente esta palavra. Mas verá que saberei emendar-me. Obrigado pela confiança que teve em mim. Adeus.

E, depois disto, um homem, todo envolvido numa capa comprida, saiu da porta do quintal, tendo antes apertado a mão, que se lhe estendia de dentro.

Pedro mal tinha ouvido e mal conseguiu ver tudo aquilo; passavam- lhe pelos olhos como que nuvens de fogo. Correu para este visitador nocturno com a impetuosidade, de que o animava a raiva e, apontando-lhe ao peito a espingarda, gritou com um rugido aterrador:

- Alto, miserável! Pára, ou estás morto!

O homem ficou imóvel.

Dentro do quintal ouviu-se então um grito dilacerante e a porta fechou-se, violentamente impelida de encontro aos batentes.

Pedro rompeu para o desconhecido, que recuou diante dele.





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