As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 34: XXXIV Pág. 243 / 332

- Quem és? Quero conhecer-te antes de te matar, infame.

E como o embuçado cada vez procurasse ocultar-se mais, Pedro lançou-lhe a mão, e, com um movimento rápido, descobriu-lhe o rosto, arrojando ao chão a capa, em que se envolvia. O luar bateu em cheio nas faces do outro.

Reconheceu Daniel.

É inexprimível em linguagem conhecida o que neste momento se passou no coração do pobre rapaz.

- Daniel! - bradou ele, sufocado pela intensidade da comoção que recebera.

Daniel conservava-se mudo e abatido. Dir-se-ia fulminado.

Houve longo espaço de silêncio.

Pedro sentiu que se lhe formava no coração uma tempestade medonha; um raio de razão, que lhe luzia ainda, inspirou-o para dizer em voz, já cava e abafada:

- Por alma de nossa mãe, Daniel, por alma de nossa mãe, sai daqui se não queres que suceda alguma desgraça.

- Ouve-me, Pedro, escuta-me - tentou dizer Daniel, mas as palavras, a custo, se lhe articulavam e a voz prendia-se-lhe na garganta.

- Daniel, foge, foge daqui, se me não queres perder! foge, irmão! - bradava Pedro e, como que já sem consciência, contraíam- se-lhe espasmodicamente os dedos sobre o gatilho da espingarda.

Daniel ia a falar-lhe ainda, quando sentiu uma mão pousar-lhe no ombro, e em seguida, um homem que, durante o ocorrido, se aproximava do lugar, veio interpor-se entre ele e o irmão.

- Retire-se - exclamou este homem com voz severa, voltando- -se para Daniel. - Eu tinha previsto esta desgraça!

Era o reitor.

Ia a dirigir-se depois a Pedro, mas já não o encontrou ali.

O padre estremeceu.

- Meu Deus, é preciso evitar algum crime. O rapaz vai louco.

Pedro batia violentamente com a coronha da espingarda na porta do quintal, que pouco tempo lhe poderia resistir.





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