O Conde de Monte Cristo - Cap. 28: Os registos das prisões Pág. 231 / 1080

- Era um meio arriscado e que indicava certa coragem observou o inglês.

- Oh, como já lhe disse, senhor, era um homem forte e perigoso! Felizmente, ele próprio desembaraçou o Governo dos receios que nutria a seu respeito.

- Como assim?

- Como? Não compreende?

- Não.

- O Castelo de If não tem cemitério. Os mortos são pura e simplesmente lançados ao mar depois de se lhos prender aos pés um pelouro de trinta e seis.

- E depois? - perguntou o inglês, como se fosse de raciocínio lento.

- E depois?... Prenderam-lhe um pelouro de trinta e seis aos pés e atiraram-no ao mar!

- Deveras?! - exclamou o inglês.

- É verdade, senhor - continuou o inspector. – Decerto compreende qual foi a surpresa do fugitivo quando se sentiu precipitado do cimo dos rochedos. Gostaria de ver a sua cara nesse momento.

- Seria difícil...

- Mas não tem importância! - exclamou o Sr. de Boville, a quem a certeza de recuperar os seus duzentos mil francos punha de bom humor. - Não tem importância! Imagino-a...

E desatou a rir.

- E eu também - disse o inglês.

E desatou igualmente a rir, mas como riem os Ingleses, isto é, entredentes.

- Assim - continuou o inglês, o primeiro a deixar de rir -, assim, o fugitivo morreu afogado?

- Evidentemente.

- De modo que o governador do castelo se livrou ao mesmo tempo do furioso e do louco?

- Exacto.

- No entanto, deve ter sido lavrada uma espécie de acta do sucedido, não? - perguntou o inglês.

- Claro, claro, passou-se uma certidão de óbito. Compreende, os parentes de Dantès, se os tinha, podiam ter interesse em se assegurar se estava morto ou vivo.

- De forma que podem estar agora tranquilos, se houver herança. Está morto e bem morto.

- Oh, meu Deus, se está! Atestar-se-lho-á quando quiserem.

- Perfeitamente - disse o inglês. - Mas voltaremos aos registos.

- É verdade. Esta história desviou-nos disso. Perdão.

- Perdão de quê? Da história? De modo nenhum, até a achei curiosa.

- E é-o, de facto. Portanto, deseja ver, senhor tudo o que se relaciona com o seu pobre abade, que era a bondade personificada, não é verdade?

- Dar-me-ia prazer.

- Entre no meu gabinete que eu mostro-lhe o que pretende.

Ambos entraram no gabinete do Sr. de Boville, onde efectivamente tudo se encontrava em perfeita ordem: cada registo tinha o seu número e cada processo o seu cacifo. O inspector convidou o inglês a sentar-se na sua poltrona, colocou diante dele o registo e o processo relativos ao Castelo de If e deu-lhe todo o tempo que quisesse para os consultar, enquanto ele próprio, sentado num canto, lia o seu jornal.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069