O Conde de Monte Cristo - Cap. 52: Toxicologia Pág. 507 / 1080

- Não, foi lá fora... foi... não sei bem... mas parece-me que esta recordação é inseparável de um belo sol e de uma espécie de festa religiosa... A menina tinha flores na mão, o menino corria atrás de um belo pavão, num jardim a senhora... a senhora estava debaixo de um caramanchão em forma de abóbada... Ajude-me, minha senhora. O que acabo de lhe dizer não lhe lembra nada?

- Não, na verdade - respondeu a Sr.ª de Villefort. - E no entanto parece-me, senhor, que se o tivesse encontrado em qualquer parte a sua recordação teria ficado gravada na minha memória.

- Talvez o Sr. Conde nos tenha visto em Itália - sugeriu timidamente Valentine.

- Com efeito, na Itália... é possível - admitiu Monte-Cristo.

- Já viajou pela Itália, menina?

- Minha madrasta e eu estivemos lá dois anos. Os médicos temiam pelos meus pulmões e recomendaram-me o ar de Nápoles. Passámos por Bolonha, Perúsia e Roma.

- É verdade, menina! - exclamou Monte-Cristo, como se aquela simples indicação bastasse para fixar todas as suas recordações.

- Foi em Perúsia, no dia da festa do Corpo de Deus, no jardim da estalagem da posta, que o acaso nos reuniu: a senhora, a menina, o seu filho e eu. Recordo-me que foi aí que tive a honra de os ver.

- Lembro-me perfeitamente de Perúsia, senhor, e da estalagem da posta, e da festa a que se refere - disse a Sr.ª de Villefort -, mas, por mais que interrogue as minhas recordações, a minha memória deixa-me envergonhada, pois não me lembro de ter tido a honra de o ver.

- É estranho, mas eu também não - disse Valentine, levantando os belos olhos para Monte-Cristo.

- Lembro-me eu! - exclamou Edouard.

- Vou ajudá-la, minha senhora - prosseguiu o conde. - O dia estivera escaldante e a senhora esperava cavalos que não chegavam devido à solenidade. A menina afastou-se para a parte mais densa do jardim e o seu filho desapareceu correndo atrás da ave.

- Apanhei-o, mãezinha, bem sabes, e arranquei-lhe três penas da cauda - declarou Edouard.

- A senhora ficou debaixo da abóbada do caramanchão... Não se lembra de, enquanto esteve sentada num banco de pedra e de, como eu disse, enquanto Mademoiselle de Villefort e o seu filho estiveram ausentes, ter conversado durante bastante tempo com alguém?

- Sim, realmente, lembro... - admitiu a jovem senhora, corando.

-Lembro-me de conversar com um homem envolto numa grande capa de lã... com um médico, creio.

- Exactamente minha senhora. Esse homem era eu. Havia quinze dias que estava hospedado na estalagem, curara o meu criado de quarto de uma febre e o estalajadeiro de icterícia, de modo que me olhavam como um grande médico.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069