- E quem lhe disse que éramos íntimas, Maximilien?
- Ninguém. Mas pareceu-me que isso saltava à vista, dada a forma como davam o braço uma à outra e conversavam. Dir-se-iam duas amigas de colégio trocando confidências.
- E trocávamos efectivamente confidências - reconheceu Valentine. - Ela confessava-me a sua repugnância por um casamento com o Sr. de Morcerf e eu, pela minha parte, confessava-lhe que considerava uma infelicidade casar com o Sr. de Epinay.
- Querida Valentine!
- Aqui tem, meu amigo - continuou a jovem -, porque motivo notou essa aparência de abandono entre mim e Eugénie. É que enquanto falava do homem que não posso amar pensava no homem que amo.
- Como é boa em tudo, Valentine, e possui uma coisa que Mademoiselle Danglars nunca terá: o encanto indefinido que está para a mulher como o perfume está para a flor e o sabor para o fruto. Porque não basta uma flor ser bela, nem um fruto ser agradável à vista.
- É o seu amor que o leva a ver as coisas assim, Maximilien.
- Não, Valentine, juro-lhe. Olhe, observava ambas há pouco e dou-lhe a minha palavra de honra de que, embora prestando justiça à beleza de Mademoiselle Danglars, não compreendia que um homem se apaixonasse por ela.
- Porque, como dizia, Maximilien, eu estava aqui e a minha presença tornava-o injusto.
- Não... mas diga-me... uma questão de mera curiosidade resultante de certas ideias que tenho a respeito de Mademoiselle Danglars...
- Oh, e decerto muito injustas, mesmo sem eu saber quais! Quando os homens nos julgam. nós, pobres mulheres, não devemos esperar indulgência.
- Como se, entre elas, as mulheres fossem justas umas para com as outras!
- Porque quase sempre há paixão nos nossos julgamentos. Mas voltemos à sua pergunta.
- É por amar alguém que Mademoiselle Danglars receia o seu casamento com o Sr. de Morcerf?
- Maximilien, já lhe disse que não era amiga de Eugénie.
- Mas, meu Deus, mesmo sem serem amigas as raparigas fazem confidências umas às outras! Admita que lhe fez algumas perguntas a tal respeito... Ah, já a vejo sorrir!...
- Sendo assim, Maximilien, não serve de nada haver este tapume entre nós...
- Vejamos, que lhe disse ela?
- Disse-me que não amava ninguém - respondeu Valentine. - Que tinha horror ao casamento; que a sua maior alegria seria levar uma vida livre e independente, e que quase desejaria que o pai perdesse a fortuna para se tornar artista como a sua amiga Mademoiselle Louise d'Armilly.
- Está a ver?...
- E então, que prova isso? - perguntou Valentine.