O Conde de Monte Cristo - Cap. 94: A confissão Pág. 887 / 1080

- Sim, preciso do senhor, isto é, acreditei como um insensato que me poderia ajudar numa circunstância em que só Deus mepode valer.

- Diga sempre - respondeu Monte-Cristo.

- Oh, não sei, na verdade, se me será permitido revelar semelhante segredo a ouvidos humanos! Mas a necessidade e a fatalidade obrigam-me a isso, conde.

Morrel calou-se por momentos.

- Acredita que o estimo? - perguntou Monte-Cristo, pegando afectuosamente na mão do rapaz.

- Oh, o senhor encoraja-me e depois qualquer coisa me diz aqui - e Morrel pôs a mão no coração - que não devo ter segredos para o senhor.

- Tem razão, Morrel. É Deus que fala ao seu coração e é o seu coração que lhe fala. Repita-me tudo o que lhe disse o seu coração.

- Conde, permite-me que mande Baptistin pedir da sua parte notícias de alguém que o senhor conhece?

- Se me pus à sua disposição, com mais forte razão ponho os meus criados.

- Oh, é que não viverei enquanto não tiver a certeza de que ela está melhor!

- Quer que chame Baptistin?

- Não, eu próprio falo com ele.

Morrel saiu, chamou Baptistin e disse-lhe algumas palavras em voz baixa. O criado de quarto saiu a correr.

- Então, já o mandou? - perguntou Monte-Cristo ao ver entrar Morrel.

- Sim e espero ficar um pouco mais tranquilo.

- Estou à espera de ouvir o que tem para me dizer - lembrou Monte-Cristo, sorrindo.

- Tem razão, escute. Uma noite encontrava-me num jardim, escondido por um renque de árvores, e ninguém desconfiava da minha presença ali. Duas pessoas passaram perto de mim. Permita-me que cale provisoriamente os seus nomes. Conversavam em voz baixa e no entanto eu tinha tanto interesse em ouvir as suas palavras que não perdia uma só das que diziam.

- O caso anuncia-se lugubremente, a julgar pela sua palidez e pela sua emoção, Morrel.

- Oh, sim, muito lugubremente, meu amigo! Acabava de morrer alguém em casa do dono do jardim onde me encontrava. Uma das duas pessoas cuja conversa escutava era o dono do jardim e a outra o médico. ora, o primeiro confiava ao segundo os seus receios e os seus desgostos, porque era a segunda vez no espaço de um mês que a morte se abatia, rápida e imprevista, sobre aquela casa, que dir-se-ia designada por algum anjo exterminador à cólera de Deus.

- Ah, ah! - exclamou Monte-Cristo, olhando fixamente o rapaz e virando a sua poltrona num movimento imperceptível, de forma a ficar na sombra, enquanto a luz batia na cara de Maximilien

- Sim - continuou este -, a morte entrara duas vezes naquela casa no espaço de um mês.

- E que respondia o médico? - perguntou Monte-Cristo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069