O Conde de Monte Cristo - Cap. 107: O covil dos leões Pág. 999 / 1080

- E depois ... nos Campos Elísios reside um cavalheiro muito, muito rico...

- Em casa de quem roubaste e assassinaste, não é verdade?

- Creio que sim.

- O Sr. Conde de Monte-Cristo?

- Foi o senhor que lhe citou o nome, como diz o Sr. Racine... Bom, devo lançar-me nos seus braços, apertá-lo muito ao peito e gritar: «meu pai! Meu pai!”, como diz o Sr. Pixérécourt?

- Deixemo-nos de gracejos - replicou gravemente Bertuccio - e que semelhante nome não seja pronunciado aqui como te atreveste a pronunciá-lo.

- Ora, ora! - exclamou Andrea, um pouco aturdido com a solenidade de Bertuccio. - Por que não?

- Porque a pessoa que usa esse nome está demasiado nas boas graças do céu para ser o pai de um miserável como tu.

- Oh, lá vêm as grandes palavras!...

- E de grandes efeitos, se não te acautelares!

- Ameaças!... Não as temo. Direi...

- Julgas que estás a lidar com pigmeus da tua espécie? - perguntou Bertuccio num tom tão calmo e com um olhar tão firme que Andrea ficou perturbado até ao fundo das entranhas. - Julgas que estás a lidar com os teus habituais companheiros das galés ou com os papalvos da sociedade?... Benedetto, estás em poder de uma mão terrível, mão que se quer abrir em teu proveito; aproveita a oportunidade. Não brinques com o raio que ela largou por um instante, mas em que pode voltar a pegar se tentares prejudicar-lhe a liberdade de movimentos.

- O meu pai... quero saber quem é o meu pai - insistiu o teimoso. - Morrerei por isso, se for preciso, mas sabê-lo-ei. Que me interessa a mim o escândalo, o bem... a reputação... a fama... como diz Beauchamp, o jornalista? Mas vocês, gente da alta, têm sempre alguma coisa a perder com o escândalo, apesar dos seus milhões e dos seus títulos nobiliárquicos... Portanto, quem é o meu pai?

- Vim cá para to dizer.

- Sim?! - exclamou Benedetto com os olhos cintilantes de alegria.

Neste momento a porta abriu-se e o carcereiro dirigiu-se a Bertuccio:

- Perdão, senhor, mas o juiz de instrução espera o preso.

- É o encerramento do meu interrogatório - disse Andrea ao digno intendente. - Ao diabo o importuno!

- Voltarei amanhã - disse Bertuccio.

- Pois sim - respondeu Andrea. - Sr. Gendarme, estou à sua disposição... Ah, querido senhor, deixe uma dezena de escudos na secretaria para que me forneçam aqui o que precisar!

- Assim farei - respondeu Bertuccio.

Andrea estendeu-lhe a mão. Bertuccio conservou a sua na algibeira e limitou-se a fazer soar algumas moedas de prata.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069