A Queda de um Anjo - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 12 / 207

Por muitos factos desta natureza conspiraram os influentes do círculo de Miranda contra os delegados do Governo; e a ideia de eleger o morgado foi recebida entusiasticamente por todos aqueles que o ouviram falar no adro da igreja, e por quantos houveram notícias da sua parlenda.

O partido, que o mestre-escola ganhara de eloquente assalto, cedeu ao império das razoáveis conveniências, e centralizou-se na maioria. A verbosidade, porém, do professor não ficou despremiada, sendo nomeado secretário da junta de paróquia.

Resistiu Calisto de Barbuda tenazmente às solicitações dos lavradores, que o procuraram com o mestre-escola à frente, facto que muito honra este desinteresseiro e reportado funcionário. Neste encontro, o professor excedeu o juízo avantajado que ele propriamente fazia de sua vocação oratória. Mostrou as fauces do abismo escancaradas para travarem Portugal, se os sábios e virtuosos não acudissem a salvar a Pátria moribunda. Calisto Elói, enternecido até às lágrimas pela sorte da terra de D. João I, voltou-se para a esposa, e disse, como o agricultor Cincinato:

— Aceito o jugo! Assaz receio, mulher, que os nossos campos sejam mal cultivados este ano…

Estavam próximas as eleições.

A autoridade, assim que soube da resolução do morgado da Agra, preveniu o Governo da inutilidade da luta. Não obstante, o ministro do Reino redobrou instâncias e promessas, no intuito de vingar a candidatura de um poeta de Lisboa, mancebo de muitas promessas ao futuro, que tinha escrito revistas de espectáculos, e recitava versos dele ao piano, cuja falta ou demasia de sílabas a bulha dos sonoros martelos disfarçava.





Os capítulos deste livro