A Queda de um Anjo - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 121 / 207

Nisto cismava, compreendendo então as frases mélicas dos famosos amadores, quando as portadas da janela se abriram subtilmente, e logo a vidraça foi subindo mui de leve.

O recanto, em que o morgado da Agra se abrigara do vento, estava fora do caminho, sumido aos olhos da pessoa que abrira a janela. Ao mesmo tempo, ouviu ele passos na estrada, e logo viu acercar-se um vulto rebuçado da casa de Adelaide, e parar debaixo da janela que se abrira.

Conjecturou Calisto de Barbuda que D. Catarina Sarmento, a esposa infida, reincidira nas presas do velho pecado, e sentiu algum tanto molestada sua vaidade de regenerador de corações estragados.

Também suspeitou que Bruno de Vasconcelos, quebrando a palavra jurada, voltara do estrangeiro a reatar a criminosa aliança.

Não lhe deram tempo a mais conjecturas. O encapotado expectorou um cacarejo de tosse seca; da janela, como contra-senha, respondeu outro cacarejo de mais simpático timbre, e logo as duas almas se abriram neste diálogo:

— Ainda bem que recebeste a minha carta, Vasco!… — disse Adelaide. — Estavas em casa da tia condessa? Eu mandei lá por me lembrar que se fazia lá hoje a novena das Chagas…

— Fiquei espantado — disse Vasco da Cunha. — Que rápida deliberação foi esta?! Vir para uma quinta com tão mau tempo! Foi caso de maior!…

— Fui eu a causa — tornou ela. — São melindres do meu coração, que, por amor de ti, não sofre que outra voz de homem lhe fale a linguagem que eu só quero e aceito da tua boca.





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