A Queda de um Anjo - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 122 / 207

Antes me quero aqui escondida com a tua imagem, que ver-me obrigada a tolerar os atrevimentos de Calisto de Barbuda…

— Quê! — atalhou Vasco — pois aquele homem tão sério!… tão temente a Deus!…

— É um hipócrita com a brutalidade de um provinciano!… Ofereceu-me uns versos em segredo! Que ultraje! Que falta de respeito à minha posição…

— E que desmoralizada e irreligiosa criatura! Casado, já daqueles anos, legitimista, e católico, segundo diz, e ousar… Estou espantado! E a tia condessa que me tinha encarregado de o convidar para assistir no domingo à festa das Chagas! Fiem-se lá!… E tu, não faltes à festa, Adelaide. Este ano fazemo-la com toda a pompa. O pregador já me leu o discurso, e trata eruditamente a matéria. A prima Lacerda vai cantar um Benedicite, e a prima viscondessa de Lagões canta um Tantum ergo. Havemos de fazer melhor festa que a do conde de Merles. Eu começo amanhã a colher flores e a pedi-las para enfeitar o altar dos três reis magos e das três virtudes cardeais, de que me fizeram mordomo, não sei se sabias?

— Não sabia, meu amor — disse Adelaide, congratulando-se com os entusiasmos pios do excelente moço.

A palestra prosseguiu neste tom por espaço de uma hora.

A lua espreitava estas duas pessoas por entre as nuvens, que a pouco e pouco se foram descondensando. O céu azulejou-se e estrelou-se para galardoar a virtude do mordomo das três virtudes cardeais e da bela menina destinada a maridar-se com o mais enérgico influente da festa das Chagas, com o que o devoto conde de Merles se havia de dar a perros.





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