A Queda de um Anjo - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 123 / 207

No entanto, Calisto Elói, consultando a sua consciência a respeito de Vasco da Cunha, decidiu que o homem, se não era um santo, propendia grandemente para a sensaboria do idiotismo. Esta crítica é a prova de um ânimo já iscado da peçonha da meia impiedade que degenera em impiedade inteira. Já como castigo de escarnecer um moço virtuoso, sentia ele encher-se-lhe de amargura o coração. Não bastava ouvir-se qualificado de hipócrita brutal por Adelaide; quis demais disto a providência dos amantes lerdos, providência que eu não posso escrever senão com p pequeno, quis, digo, que Vasco da Cunha, mancebo em flor de anos e gentileza, se estivesse ali rejubilando em novenas e mordomias das três virtudes cardeais, enquanto ele, Calisto, a mais de meio caminho da morte, ardia em fogo impuro e cobiça pecaminosa, com os olhos cerrados à visão duas vezes pura de uma esposa de touca e lencinho azul de três pontas sobre as espáduas não despiciendas, segundo me consta.

Merecem escritura as últimas frases de Adelaide e Vasco.

A menina, interrompendo os enlevos do devoto moço, que se deleitava em conjecturar a zanga do conde de Merles, perguntou-lhe, com doce requebro, quando viria o dia suspirado de sua união.

Vasco deteve a resposta alguns segundos, e disse:

— Deixemos ver se morre minha tia Quitéria, que me quer deixar os vínculos do Algarve.

— Pois nós — volveu Adelaide magoada — não poderemos ser felizes sem os vínculos de tua tia Quitéria, meu Vasco?





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