A Queda de um Anjo - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 14 / 207

Principiou, desde logo, o morgado eleito a refrescar a memória com as suas leituras de história grega e romana. Era isto entroixar ciência e enfeixar flores para o Parlamento. Depois, releu a legislação dos bons tempos de Portugal, a fim de restaurar os costumes desbaratados, fazendo remoçar as leis, que haviam sido o tabernáculo da moral humana guardado pelo temor de Deus. Tosquenejou muitas noites sobre os bacamartes pulvéreos; e, desde que a manhã raiava até horas de almoço, ia à margem do Douro, que lhe lambia a ourela da quinta, declamar, como Demóstenes nas ribas marítimas, ao estridor de um açude e das rodas de duas azenhas. Os moleiros, que o viam bracejar, e lhe ouviam o vozeamento, benziam-se, pensando que o sábio treslera, ou coisa má lhe entrara no corpo. A Sra. D. Teodora Figueiroa, vendo o marido assim tresnoitado, seguia-o às vezes, de madrugada, espreitava-o de um cabeço sobranceiro ao rio, e benzia-se também, dizendo: «Dão-me com o homem em doido!» Chegou o tempo de partir para a capital.

O deputado mandou adiante por almocreve duas cargas de livros, nenhum dos quais tinha menos de cento e cinquenta anos.

Seguia-se, na conduta dos machos portadores, uma carga de presunto e orelheira, substância quotidiana da alimentação de Calisto Elói.

Depois, outra carga de ancoretas de vinho velho, e na entrecarga uma garrafeira com duas dúzias de garrafas de vinho, que competia antiguidade com a fundação da companhia.





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