A Queda de um Anjo - Cap. 27: Capítulo 27 Pág. 152 / 207

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Entre os mancebos, estremava-se um, que passava grandes espaços de tempo em quietismo escultural debaixo de um olmo, que sobranceava a casa de Ifigénia. Sempre que ela, à hora da maior calma, se aproximava da janela do seu gabinete a respirar o frescor do jardim, via o contemplativo sujeito de braços cruzados, e olhos fitos. Mas, assim que, ao entardecer, os arredores da casa começavam a ser frequentados, o moço, como quem se resguarda, desaparecia.

Era este sujeito aquele Vasco da Cunha, que esperava a herança de uma tia para casar com Adelaide Sarmento. Os olhos indiferentes de Ifigénia assetearam-lhe a pia alma, num daqueles dias em que ele viera de Lisboa a Sintra para assistir à novena de Santo António de Pádua, celebrada solenemente na capela de uma tia marquesa. Ou porque o ascético fidalgo andasse com o coração amolecido pelas práticas piedosas, ou porque Ifigénia se lhe figurasse algum daqueles serafins que visitavam os anacoretas da Tebaida, o certo é que não houve mais despegar-se-lhe a fantasia daquela imagem, que se interpunha entre ele e o santo filho de Martim de Bulhões.

Ifigénia atentou na pertinácia do homem, e contou ao primo Calisto, gracejando, a tempestade amorosa que lhe andava iminente na pessoa daquele sujeito. Assomaram diferentes cores ao rosto do morgado. Quisera ele dissimular o sobressalto com o sorriso; mas a rubidez sanguínea dos olhos, se o dramaturgo inglês a visse, arranjaria daquele aspeito feroz assunto para mais celerado preto.





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