A Queda de um Anjo - Cap. 27: Capítulo 27 Pág. 153 / 207

Ifigénia lisonjeou-se daquela explosão de lavas que arquejavam na testa do homem.

Lisonjeou-se!… Pois amava-o ela?!

Não sei com que direito me fazem esta pergunta assim com uns visos de espanto! Amava-o como quem não tinha amado nunca. E para lisonjear-se de incutir ciúme não lhe fora mister amá-lo, digamo-lo de passagem, e em nome da consciência incorruptível das senhoras, cuja atenção e reparo é felicidade que eu anteponho a todas.

Amava-o, sem pensar os benefícios extremamente delicados com que ele lhe dulcificava a existência. Amava-o cativa do quer que é que primeiro prende a vontade da mulher, sem dependência dos dons da alma. Calisto Elói de Silos estava uma esbelta figura de homem. A cara compusera-se arabicamente. O bigode cerrado e negro caía-lhe sobre as clavículas. O descostume da leitura restituíra-lhe o aprumo da espinha dorsal. O ventre baixou às proporções razoáveis. No trajar, refinava em elegância e gosto, subordinando-se ao alvitre do alfaiate. Todo aquele ar de meneios, posturas e jeitos, acusava os fidalgos espíritos, resgatados da bruteza da antiga vida. Pode ser que alguma afectação lhe maculasse os modos e garbo das atitudes; sem embargo, o senhor da Agra de Freimas era homem para merecer, sem favor, a consideração de qualquer dama superciliosa na escolha.

Se isto não bastasse a ponderar no ânimo de Ifigénia, mal poderia resistir-lhe o coração aos respeitos, porventura demasiados, com que ele interpunha largo estádio entre as expansões da palavra e o mínimo vislumbre de qualquer intento menos decoroso.





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