A Queda de um Anjo - Cap. 35: Capítulo 35 Pág. 194 / 207

Onde parasse a liteira, o gentio fazia-lhe roda, e queria saber donde vinha aquela criatura incomparável. Teodora, à entrada de Penafiel, a pedido respeitoso do liteireiro, tirou o chapéu e cobriu a cabeça com um lencinho de três pontas. Ainda assim, o vestido de veludo, cor de ginja dava nos olhos. Os padres de Penafiel, quando avistaram a liteira, cuidaram um momento que vinha ali alguma preeminência eclesiástica, como cardeal, ou coisa assim. A desarmonia do lencinho com o vestido ofendia o belo ideal, e a simetria plástica das damas da terra, as quais, ao verem-na saltar da liteira para o pátio da estalagem com o chapéu semelhante a um cabaz de cavacas das Caldas, soltaram grande estralada de riso. As meninas da estalagem, condoídas do aspecto doentio e honesto da viandante, informaram-se da qualidade da pessoa, e romperam no louvável excesso de se insinuarem na fidalga, para lhe pedirem que se vestisse de outra maneira.

Acedeu sem repugnância Teodora. As risadas francas do povo haviam-na amolecido. O velho também votou pela reforma dos trajos. E, como ali pernoitasse e deliberasse esperar o dia seguinte, deu tempo a que a provessem de chapéu razoável, e vestido com o competente paletó de seda, nas quais coisas colaboraram todas as modistas da terra.

Regenerada pelo vestido, parecia outra. As meninas pentearam-lhe os opulentos e negros cabelos à Stuart, segundo elas disseram. Descobriram-lhe a fronte bem talhada. Deram-lhe umas lições de pisar e arregaçar-se, para a desacostumarem de ir com os pés sobre a orla do vestido, ou mostrar os calcanhares na andadura.





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