A Queda de um Anjo - Cap. 35: Capítulo 35 Pág. 195 / 207

O merinaque foi um golpe certeiro no desaire da fidalga de Travanca. Ela mesma, olhando em si, dizia no secreto da sua consciência ilustrada em Penafiel:

— Eu assim estou melhor, isso é verdade!

O tio Paulo torcia um pouco o nariz ao merinaque, dizendo:

— Pareces-me uma boneca de roda de fogo! Tens aleijados os quadris, salvo tal lugar! Mas se é moda, deixa-te ir assim, menina, até Lisboa; porém, quando entrares em casa, manda espetar esses arcos num pau, para espantar os pardais da sementeira.

Como o velho fidalgo desejasse ver o mar, resolveram ir para Lisboa no vapor. Teodora, quando principiou a enjoar, pediu os sacramentos; animada, porém, com as risadas de outras senhoras, convenceu-se que não era mortal a sua aflição.

Hospedaram-se no cais do Sodré. D. Teodora, não obstante a ansiedade em que ia de avistar-se com o marido, cuidou em reparar as forças com um dormir daqueles que a Providência concede às consciências puras e às pessoas que desembarcam enjoadas.

Paulo de Figueiroa saiu para a rua, no intento de informar-se da residência de Calisto. Porém, como encontrasse na rua do Alecrim um macaco encavalgado num cão, que trotava a compasso de realejo, deixou-se ficar pasmado no espectáculo; depois, foi subindo até ao largo das Duas Igrejas, e quedou-se a ouvir um cego de óculos verdes que pregoava e referia o sucesso negro de um homem que matara seu avô. Terminava o cego, oferecendo a notícia impressa, onde tudo estava declarado.





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