— Eu assim estou melhor, isso é verdade!
O tio Paulo torcia um pouco o nariz ao merinaque, dizendo:
— Pareces-me uma boneca de roda de fogo! Tens aleijados os quadris, salvo tal lugar! Mas se é moda, deixa-te ir assim, menina, até Lisboa; porém, quando entrares em casa, manda espetar esses arcos num pau, para espantar os pardais da sementeira.
Como o velho fidalgo desejasse ver o mar, resolveram ir para Lisboa no vapor. Teodora, quando principiou a enjoar, pediu os sacramentos; animada, porém, com as risadas de outras senhoras, convenceu-se que não era mortal a sua aflição.
Hospedaram-se no cais do Sodré. D. Teodora, não obstante a ansiedade em que ia de avistar-se com o marido, cuidou em reparar as forças com um dormir daqueles que a Providência concede às consciências puras e às pessoas que desembarcam enjoadas.
Paulo de Figueiroa saiu para a rua, no intento de informar-se da residência de Calisto. Porém, como encontrasse na rua do Alecrim um macaco encavalgado num cão, que trotava a compasso de realejo, deixou-se ficar pasmado no espectáculo; depois, foi subindo até ao largo das Duas Igrejas, e quedou-se a ouvir um cego de óculos verdes que pregoava e referia o sucesso negro de um homem que matara seu avô. Terminava o cego, oferecendo a notícia impressa, onde tudo estava declarado.