A Queda de um Anjo - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 8 / 207

Isto que o Horácio faminto dizia de si, acomodam-no os regedores da coisa pública aos professores de primeiras letras; porém, outros muitos versos do Horácio farto, esses, tomam-nos eles para seu uso.

Estava, pois, o mestre-escola, de parceria com o boticário, a castigar a perversidade dos imperadores romanos, por amor do mártir

S. Sebastião, que, segunda vez, acabava de ser frechado no panegírico. Neste comenos, abeirou-se deles Calisto Elói, e para logo se calaram as duas capacidades, em deferência ao Salomão da terra.

— Que dizem vossemecês? — perguntou Calisto benignamente. — Continuem… Parece que falavam do santo.

— É verdade, Sr. morgado — acudiu o boticário, ajustando os colarinhos percucientes do verniz da goma. — Falávamos na malvadez dos imperadores pagãos.

- Sim! — disse Calisto, com proeminência declamatória — sim! Horrorosos tempos aqueles foram! Mas os tempos actuais não se diferençam tanto dos antigos que possamos, em consciência e ciência, encarecer o presente e praguejar o passado. Diocleciano era pagão, cego à luz da graça: os crimes dele hão-de ser contrapesados, e descontados, na balança divina, com a ignorância do delinquente. Ai, porém, dos que prevaricaram fechando os olhos à luz da notória verdade, a fim de se fingirem cegos! Ai dos ímpios, cujas entranhas estão afistuladas de herpes! No grande dia, funestíssima há-de ser a sentença deles, novos Calígulas, novos Tibérios, e Dioclecianos novos!





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