A Queda de um Anjo - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 87 / 207

Os legisladores não estudam o crime com o compasso sobre um crânio esbrugado. Se fordes a Windsor Castle e vos meterdes de gorra com os guardas que mostram o castelo, ouvireis que um dos filhos da rainha tem uma irresistível tendência para a rapina: é uma pega humana. Uma pega humana, rapacíssima, a mais não! Sr. presidente, do nosso rei D. Miguel se conta que, já mancebo saído da puerícia, se entretinha a maltratar animais, chegando um dia a ser encontrado arrancando as tripas a uma galinha viva com um saca-rolhas.

Vozes: — À ordem! à ordem!

O orador: — Pois em que me transviei da ordem?

Uma voz: — Não se diz no seio da representação nacional: o nosso rei D. Miguel.

O orador: — Eu referi o caso com as expressões em que o acho narrado num livro mirífico e sobreexcelente do Sr. Dr. Aires de Gouveia.

Uma voz: — Pois não faça obra por inépcias do Dr. Aires de Gouveia.

O orador: — Retiro a dessoante frase, que impensada destilei do lábio, e ao ponto me reverto. Sem a ciência de Porta e de Blumenbach toda a penalidade sairá vesga, bestial, e infernalíssima. É natural, Sr. presidente, que o sentimento se corrompa, assim como o cálculo se empedra, e arraiga o cancro nas entranhas, e o coração se ossifica, e o hidrocéfalo se gera, ainda nos mais solícitos em higiene.

Posto isto, Sr. presidente, cumpre dividir os sexos, pelo que diz respeito ao calibre do castigo. Eu citarei, com quanta ênfase me cabe na alma, algumas linhas do jovem esplêndido de verbo, que auspicia e promete o primeiro criminalista desta terra. Falo de Aires de Gouveia, e nele me estribo.





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