A Queda de um Anjo - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 90 / 207

Deu a hora, Sr. presidente. A matéria é tal e tão rica, e para tamanho cavar nela, que se me confrange a alma de lhe não dar largas. Aqui me fico, e do imo peito espido brado de louvor, que louvaminha não é, ao ilustre membro desta Câmara que mandou para a mesa a proposta da reformação das cadeias. Bênçãos lhe chovam, que assim, com válida mão, emborca a froixo urnas de bálsamos sobre a esqualidez da mais ascosa úlcera da humanidade. (Prolongados aplausos. O orador foi cumprimentado por pessoas graves, que tinham estado a rir-se).

Calisto Elói contemplou-o com a fixidez de médico, que estuda os sintomas da loucura nos olhos do enfermo. Depois, voltando-se contra o abade de Estevães, disse:

— Eu queria ver como este Dr. Libório tem a cabeça por dentro.

E, ritmando o compasso com os dedos na tampa da caixa, declamou:

Quantos folgam falar a prisca língua Qual Egas, qual falou Fuas Roupinho, Qual esse conde antigo, que levara A vila de Condeixa por compadre! Mas como a falam? Põem sua mestria Em palavras sediças, termos velhos Termos de saibo e mofo, que arrepiam Os cabelos da gente…

Que dizes disto? Como chamas a estes?… Que eu não acerto a dar-lhe um nome próprio Que bem quadre a tão râncidos guedelhas? Quando estas cousas desvairadas vejo Dão-me engulhos de riso, ou ja bocejos, Como arrepiques certos de grã fome!





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