A Queda de um Anjo - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 92 / 207

Calisto sorriu contrafeito, e sentiu-se algum tanto molestado no seu pundonor e seriedade. Como a causa da mudança do vestido era pouco menos de irrisória, o homem foi logo castigado pela própria consciência. A si lhe quis parecer que era já, ante si próprio, outro sujeito, e que os estranhos lhe liam no rosto o desaire inquietador. Então lhe foi desabafo o coração. Socorreu-se dele para contradizer as reprimendas do juízo; e o coração, coadjuvado pelas maneiras e ditos afectuosos de Adelaide, despontara as ferroadas do juízo.

Os visitantes habituais do desembargador e as senhoras da casa notaram certa mudança nos modos e linguagem de Calisto. Dir-se-ia que o paletó e as pantalonas lhe tolhiam a liberdade dos movimentos, e aquela tão rude quanto simpática espontaneidade da expressão.

Autorizados filósofos e cristãos disseram que o vestido actua imperiosamente sobre o moral do indivíduo. Nas páginas imorredouras de frei Luís de Sousa está confirmado isto. «É nossa natureza muito amiga de si (diz o historiador do santo arcebispo) e experiência nos ensina que não há nenhuma tão mortificada, que deixe de mostrar algum alvoroço para uma peça de vestido novo. Alegra e estima-se ou seja pela novidade ou pela honra, e gasalhado que recebe o corpo. Até os pensamentos e as esperanças renovam um vestido novo.»

O adorável dominicano, pelo que diz da alegria que influi no ânimo um vestido em folha, enganou-se a respeito de Calisto Elói.





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