Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 5: V - Considerações plásticas Pág. 24 / 174

Quisera ele, com qualquer motivo judicial, prolongar a sua interferência nos negócios domésticos da linda criatura; mas não lhe ocorria coisa que lhe desculpasse a curiosidade, ou, mais exatamente, a fulminante ternura que o alvoroçara. Não obstante o acanhamento natural destas paixões de assalto, o bacharel, que não era já verde, e podia com a gravidade do aspecto honestar o intento, animou-se a entrar no mistério dos brilhantes com a seguinte pergunta:

- Vossa excelência tem bastante confiança no amor de seu marido?

Ângela pôs os brandos olhos no semblante do interrogador, silenciosa e desconfiada do intento de tal pergunta.

O administrador insistiu, esclarecendo:

- Pergunto eu, minha senhora, se, provada a inocência da sua criada, vossa excelência conseguirá explicar a venda dos brilhantes sem irritar o gênio de seu marido, motivando suspeitas...

Atalhou Ângela:

- Mandei vender os brilhantes para fazer bem a uma pessoa infeliz.

O funcionário receava transpor muito além a baliza do seu ofício, averiguando a espécie de filantropia que uma esposa honesta escondia de seu marido; mas o pecado da curiosidade, desculpado pela beleza da interrogada, esporeou-se até à indiscrição de perguntar-lhe:

- E essa pessoa infeliz é... é pessoa de quem seu marido possa... suspeitar... relações... menos louváveis?

Ângela doeu-se, ou, mais ao certo, pareceu corrida da pergunta, corando, e baixando os olhos silenciosa.

O administrador não instou, já convencido da impureza da caridade. Faltava sólida base para tal juízo; mas a malícia humana, se algumas vezes infama, adivinha outras. Desta vez, porém, o magistrado adivinhava apenas que naquele mistério o coração era grande parte.

- Bem - disse ele, violentando-se a respeitar o segredo alheio de sua alçada.





Os capítulos deste livro