Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 13: XIII – Desamparo Pág. 66 / 174

O recolhimento e conformidade da filha do general moveram à comiseração algumas religiosas, que se não pejaram de frequentar a sua desornada cela, a ocultas de soror Cassilda. Se alguma freira, mais desprendida de respeitos e preconceitos, se afoitava a arguir de cruel a inválida consoladora dos extintos frades, Cassilda respondia que não aceitava como sobrinha a mulher que seu irmão não considerava filha. Esta razão passava com foros de discreta e ajuizada.

Quem mais se compadecia de Ângela era uma criada da prelada. Assim que vagava às lides caseiras, ia com mostras de grande respeito à cela da fidalga, e ali se esquecia a contemplá-la, e a dizer coisas muito encarecidas, fascinada de sua beleza. Muitas vezes ofereceu as suas soldadas de trinta anos a Vitorina, às escondidas da senhora; mas a criada fazia milagres de economia com o produto dos seus enfeites, auxiliado com os bordados da ama.

Rita de Barrosas - que assim se chamava a criada da abadessa - contou muito secretamente a Vitorina que sua ama tinha apanhado uma carta muito grande, vinda do Porto para a fidalga; por sinal, ajuntava Rita, que a senhora abadessa, lendo-a a outras freiras, chorava com elas.

Com o bom propósito de não acerbar as dores de sua ama, Vitorina ocultou esta confidência. E, quando Ângela, brandamente, acusava o esquecimento de Francisco, a criada, conciliando a discrição com a consciência, dizia:

- Deus sabe o que ele padece! E vossa excelência sabe também que à sua mão, carta que ele escreva, nunca chegará.

- Mas nem Joana... aquela infeliz mulher...

- Deus sabe também se ela terá papel em que lhe escreva... Minha querida menina, tenha compaixão deles, que são mais infelizes do que vossa excelência. Disse-me a Rita de Barrosas que ouvira contar misérias da pobre gente lá pelo Porto.





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