.. Mas veja aquelas tolas, que o mais que sabem é estragar os filhos com maus exemplos e com más palavras, a fazerem- se agora de escrúpulos! Impostoras!
- Oh! isto é de mais! - bradou Clara, tremendo de indignação.
- A Rosa Alfaiata, por exemplo - prosseguiu Joana. - Ora digam-me se não é mesmo de uma pessoa perder a paciência, ouvir aquela desbocada com medos de que lhe estraguem a filha? a filha, que se não sair das que nem o Demónio quer, não há-de ser por falta de diligências que faça a mãe para isso.
Clara não podia já reter as lágrimas.
- E a Joaquina do Moleiro? Pois não querem ver aquela senhora também com delicadezas? Ora isto! Isto é de uma pessoa morrer com riso. A Joaquina do Moleiro, que eu conheci... Cala-te boca.
E por esta forma continuou a Sr.ª Joana fazendo a severa crítica das suas escrupulosas patrícias e aumentando, sem o saber, a grande aflição, em que estava Clara.
Ao separar-se da velha governante de João Semana, ia Clara com uma resolução formada, a qual se lhe podia adivinhar na firmeza do olhar e na expressão do semblante.
- É de mais - murmurava ela - vou procurar Pedro; vou dizer-lhe tudo; quero que todos saibam...
Ia pensando nisto, quando se achou em frente dos dois irmãos, que se aproximavam, conversando afectuosamente. Daniel vinha pálido; voltava naquele momento da entrevista, que inesperadamente tivera com Margarida.
Ao vê-lo assim de súbito, faltou a Clara coragem para cumprir o que tinha resolvido.
Só com Pedro teria ânimo para a confissão, mas, diante de ambos!... Era de mais para as suas forças. Calou-se.
Passadas algumas horas, voltou ela a casa e entrou na sala em que estava já Margarida, o reitor e José das Dornas.
Este último tinha ares meditabundos, como se estivesse ponderando ideias graves e não sei que misteriosos planos.