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Capítulo 110: O libelo acusatório

Página 1018

»Depois, julgando que o que fora enterrado fosse algum tesouro, abriu a cova e encontrou-me ainda vivo. Esse homem levou-me para o Albergue das Crianças Abandonadas, onde me inscreveram sob o número 57. Três meses depois a irmã do meu salvador veio de Rogliano a Paris procurar-me, reclamou-me como seu filho e levou-me. Aqui está como, apesar de nascido em Auteuil, fui criado na Córsega.

Houve um instante de silêncio, mas de um silêncio tão profundo que, sem a ansiedade que pareciam respirar mil peitos, julgar-se-ia a sala vazia.

- Continue - disse a voz do presidente.

- Claro - prosseguiu Benedetto - que poderia ter sido feliz em casa dessa boa gente, que me adorava. Mas a minha natural perversidade levou a melhor sobre todas as virtudes que a minha mãe adoptiva tentou incutir-me. Cresci no mal e cheguei ao crime. Por fim, num dia em que amaldiçoava Deus por me ter feito tão mau e ter-me dado destino tão horrível, o meu pai adoptivo disse-me: «Não blasfemes, desgraçado, pois Deus deu-te a vida sem cólera! O crime vem do teu pai e não de ti; do teu pai que te votou ao Inferno, se morresses, e à miséria, se um milagre te restituísse à vida!» Desde então deixei de blasfemar contra Deus e amaldiçoei o meu pai. Por isso proferi aqui as palavras que me censurou, Sr. Presidente; por isso causei o escândalo que ainda faz tremer esta assembleia. Se se trata de mais um crime, punam-me por ele; mas se estão convencidos, se consegui convencê-los de que desde o dia do meu nascimento o meu destino era fatal, doloroso, amargo, lamentável, compadeçam-se de mim!

- Mas a sua mãe? - perguntou o presidente.

- A minha mãe julgava-me morto; a minha mãe não é de modo algum culpada. Não procurei saber o nome da minha mãe; não a conheço.

Neste momento soou um grito agudo, que terminou num soluço, no meio do grupo que rodeava, como já dissemos, uma mulher.

Essa mulher teve um violento ataque de nervos e foi levada do pretório. Enquanto a levavam, o véu espesso que lhe cobria o rosto afastou-se e reconheceu-se a Sr.ª Danglars.

Apesar do acabrunhamento, dos seus sentidos embotados e do zumbido que lhe vibrava aos ouvidos; apesar da espécie de loucura que lhe perturbava o cérebro, Villefort reconheceu-a elevantou-se.

- As provas! As provas! - exigiu o presidente. - Lembre-se o réu de que essa teia de horrores precisa de ser comprovada por provas esmagadoras.

- As provas? - redarguiu Benedetto, rindo. - Quer provas?...

- Quero.

- Então olhe para o Sr. de Villefort e depois diga-me se ainda quer que lhe dê provas.

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pág. 1018 (Capítulo 110)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1018

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069