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Capítulo 115: A ementa de Luigi Vampa

Página 1059

Aquele era um bandido atlético, um Golias de grandes olhos, lábios grossos e nariz achatado. A cabeleira ruiva pendia-lhe sobre os ombros em madeixas encaracoladas como cobras.

- Oh, oh, este parece mais um papão do que uma criatura humana! - disse Danglars. - Em todo o caso, sou velho e bastante duro; branco gordo não presta para comer.

Como se vê, Danglars tinha ainda suficiente presença de espírito para gracejar.

No mesmo instante, como que para lhe provar que não era um papão, o guarda sentou-se diante da porta da cela, tirou da sacola pão escuro, cebolas e queijo e começou incontinente, a devorá-los.

- Diabos me levem - disse Danglars, deitando através das fendas da porta uma olhadela ao almoço do bandido -, diabos me levem se compreendo como se podem comer semelhantes porcarias.

E foi sentar-se nas peles de bode, que lhe recordavam o cheiro da aguardente da primeira sentinela.

Mas, por mais esquisito que Danglars fosse, os segredos da natureza são incompreensíveis e há muita eloquência em certos convites materiais dirigidos pelas mais grosseiras substâncias aos estômagos em jejum.

Danglars sentiu de súbito que o seu não tinha fundo naquele momento e achou o homem menos feio, o pão menos negro e o queijo mais fresco.

Finalmente, as cebolas cruas, horrível alimentação do selvagem, recordaram-lhe certos molhos Robert e certas carnes de cebolada que o seu cozinheiro preparava de forma superior quando Danglars lhe dizia: “Sr. Deniseau, faça-me para hoje um bom pratinho canalha.”

Levantou-se e foi bater à porta.

O bandido ergueu a cabeça.

Danglars viu que fora ouvido e insistiu.

- Che cosa? - perguntou o bandido.

- Ouça, ouça, amigo - disse Danglars, tamborilando com os dedos na porta -, parece-me que já é tempo de pensarem em dar-me também de comer! Mas, fosse por não ter compreendido, fosse por não ter ordens a respeito da alimentação de Danglars, o gigante voltou ao seu almoço.

Danglars sentiu o seu orgulho ferido e, não querendo mais conversa com o bruto, deitou-se nas suas peles de bode e não disse mais nada.

Passaram quatro horas e o gigante foi substituído por outro bandido. Danglars, que experimentava horríveis espasmos de estômago, levantou-se devagarinho, aplicou mais uma vez o olho às fendas da porta e reconheceu a cara inteligente do seu guia.

Era com efeito Peppino que se preparava para levar a guarda o mais agradavelmente possível sentando-se diante da porta e pousando entre os joelhos um tacho de barro contendo, quentes e cheirosos, grão e toucinho de fricassé.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1059

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069