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Capítulo 15: O número 34 e o número 27

Página 113

Cheio de esperança, Edmond comeu um pouco de pão e bebeu alguns golos de água. Graças à poderosa constituição de que a natureza o dotara encontrou-se pouco depois como anteriormente.

Passou o dia e o silêncio manteve-se. Anoiteceu e o barulho não recomeçou. «É um prisioneiro», disse Edmond para consigo com indizível alegria.

Desde então a cabeça exaltou-se-lhe e a vida tornou-se-lhe violenta à força de ser activa. A noite passou sem que se ouvisse o menor ruído. Edmond não pregou olho.

Amanheceu; o carcereiro entrou com a comida. Edmond já devorara os alimentos antigos e devorou os novos escutando sem cessar, à espera de um ruído que não voltava, receando que tivesse cessado para sempre, percorrendo dez ou doze léguas na sua masmorra, sacudindo durante horas inteiras os varões de ferro do seu respiradouro, recuperando a elasticidade e o vigor dos seus membros por meio de um exercício esquecido havia muito tempo, dispondo-se enfim a retomar, corpo a corpo, o seu destino futuro, como faz, estendendo os braços e esfregando o corpo com óleo, o lutador que vai entrar na arena. Depois, nos intervalos desta actividade febril, escutava se o ruído voltava, impacientando-se com a prudência daquele prisioneiro que não adivinhava que fora distraído da sua obra de libertação por outro prisioneiro que tinha, pelo menos, tanta pressa de ser livre como ele.

Passaram-se assim três dias, setenta e duas horas mortais, contadas minuto a minuto.

Por fim, uma noite, quando o carcereiro acabava de fazer a sua última visita e Dantès colava pela centésima vez o ouvido à muralha, pareceu-lhe que um abalo imperceptível se repercutia na sua cabeça, encostada às pedras silenciosas.

Dantès recuou, para acalmar o cérebro agitado, deu algumas voltas na cela e recolocou o ouvido no mesmo sítio.

Já não havia dúvida: fazia-se qualquer coisa do outro lado. O prisioneiro reconhecera o perigo da sua manobra e optara por qualquer outra. Sem dúvida, para continuar a sua obra com mais segurança, substituíra a alavanca pelo escopro.

Animado por esta descoberta, Edmond resolveu ajudar o infatigável trabalhador. Começou por afastar a cama, atrás da qual lhe parecia decorrer a obra de libertação, e procurou com os olhos um objecto com o qual pudesse atacar a muralha, arrancar o cimento húmido, desprender finalmente uma pedra.

Não viu nada. Não tinha faca nem qualquer outro instrumento cortante. De ferro só tinha os varões e quanto a estes já se assegurara muitas vezes que estavam bem presos e não valia a pena tentar abalá-los.

Todo o seu mobiliário se compunha de uma cama, uma cadeira, uma mesa, um balde e uma bilha.

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pág. 113 (Capítulo 15)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 113

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069