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Capítulo 15: O número 34 e o número 27

Página 114

A cama tinha respigas de ferro, mas essas respigas encontravam-se presas à madeira por parafusos. Seria necessária uma chave de fenda para tirar os parafusos e arrancar as respigas. Na mesa e na cadeira, nada; o balde tivera noutros tempos uma asa, mas essa asa desaparecera. Só havia um recurso para Dantès: quebrar a bilha e com um dos bocados de barro talhado em ângulo meter mãos à obra.

Deixou cair a bilha no chão e a bilha voou em pedaços.

Dantès escolheu dois ou três cacos aguçados, escondeu-os na enxerga e deixou os outros espalhados pelo chão. A quebra da bilha era um acidente tão natural que ninguém se preocuparia com ele.

Edmond tinha toda a noite para trabalhar; mas na escuridão a tarefa corria mal, pois tinha de trabalhar às apalpadelas e não tardou a sentir que embotava o instrumento informe numa argamassa mais dura. Recolocou, pois, a cama no seu lugar e esperou que amanhecesse. Com a esperança, voltara-lhe também a paciência.

Durante toda a noite escutou e ouviu o mineiro desconhecido que continuava a sua obra subterrânea.

Amanheceu e o carcereiro entrou. Dantès disse-lhe que ao beber na véspera pela própria bilha esta lhe escapara das mãos, caíra e partira-se. O carcereiro foi, resmungando, buscar uma bilha nova, e nem sequer se deu ao incómodo de levar os bocados da velha.

Voltou pouco depois, recomendou mais cuidado ao prisioneiro e saiu.

Dantès escutou com indizível alegria o chiar da fechadura, que dantes lhe apertava o coração todas as vezes que se fechava.

Ouviu afastar-se o ruído dos passos; depois, quando o ruído se extinguiu, saltou para a cama, que desviou, e à claridade do fraco raio de luz que peneirava na cela pôde ver o trabalho inútil que fizera na noite anterior, atacando o corpo da pedra em vez da argamassa que lhe rodeava as extremidades.

A humidade tornara essa argamassa friável.

Dantes verificou, com o coração a pulsar-lhe de alegria, que a argamassa se soltava em fragmentos - fragmentos que eram quase átomos, verdade seja... Mas ao cabo de meia hora, porém Dantès já arrancara pouco mais ou menos um punhado. Um matemático poderia calcular que aproximadamente em dois anos daquele trabalho, supondo que se não encontrasse rocha, seria possível abrir uma passagem de dois pés quadrados e vinte pés de profundidade.

O prisioneiro censurou-se por não ter empregado naquele trabalho as longas horas passadas, sempre mais lentas, que perdera na esperança, na oração e no desespero.

Havia cerca de seis anos que se encontrava fechado naquela masmorra: que trabalho, por mais lento que fosse não teria feito!

Esta ideia deu-lhe novo ardor.

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pág. 114 (Capítulo 15)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 114

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069