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Capítulo 16: Um sábio italiano

Página 125

- A galeria que furou para vir da sua cela até aqui estende-se no mesmo sentido da galeria exterior, não é verdade?

- É.

- E só deve distar dela uns quinze passos?

- No máximo.

- Bom, mais ou menos a meio da galeria abrimos um caminho que forme como que o braço de uma Cruz. Desta vez, tirará melhor as suas medidas. Desembocamos na galeria exterior, matamos a sentinela e fugimos. Para que o plano resulte é preciso apenas coragem, e essa tem-na o senhor; vigor, e esse não me falta.

Isto sem falar já da paciência, de que já deu provas e eu darei as minhas.

- Um instante - atalhou o abade. - Você ignora, meu caro companheiro, de que espécie é a minha coragem e como tenciono empregar a minha força. Quanto à paciência, creio ter sido bastante paciente recomeçando todas as manhãs a tarefa da noite e todas as noites a tarefa do dia. Mas então, ouça bem o que lhe digo, rapaz, parecia-me que servia Deus libertando uma das suas criaturas que, estando inocente, não pudera ser condenada.

- Mas então - perguntou Dantès -, as coisas não estão no mesmo pé? Foi porventura reconhecido culpado desde que me encontrou?

- Não, mas também não o quero vir a ser. Até aqui julgava ter de me haver apenas com coisas, mas agora você propõe-me haver-me com homens. Furei uma parede e destruí uma escada, mas não furarei um peito nem destruirei uma existência.

Dantès fez um leve gesto de surpresa.

- Como, podendo ser livre prender-se-ia com semelhante escrúpulo - perguntou.

- Tal como você próprio - redarguiu Faria. - Por que motivo não agrediu, uma noite, o seu carcereiro com o pé da sua mesa, vestiu as roupas dele e tentou fugir?

- Porque a ideia não me acudiu - respondeu Dantès.

- Porque tem tal horror instintivo a semelhante crime, tal horror que nem sequer pensou nele - prosseguiu o velhote. - Porque nas coisas simples e permitidas os nossos apetites naturais advertem-nos de que nos não devemos desviar da linha do nosso direito. O tigre, que derrama sangue por natureza, porque é essa a sua condição, o seu destino, só precisa de uma coisa: que o faro o previna de que tem uma presa ao seu alcance.

Salta imediatamente sobre ela, cai-lhe em cima e despedaça-a. E o seu instinto e obedece-lhe. Mas ao homem, pelo contrário, repugna o sangue. Não são de modo algum as leis sociais que repudiam o assassínio, são as leis naturais.

Dantès ficou confuso. Era, com efeito, a explicação do que se estava a passar sem ele saber no seu espírito, ou antes, na sua alma, pois há pensamentos que vêm da cabeça e outros que vêm do coração.

- E depois - continuou Faria -, desde que estou preso, há perto de doze anos, já revi em espírito todas as evasões célebres.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 125

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069