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Capítulo 17: A cela do abade

Página 139

Dedicaram mais de um ano a este trabalho executado com um escopro, uma faca e uma alavanca de madeira como únicos instrumentos. Durante esse ano, e sem deixarem de trabalhar, Faria continuou a instruir Dantès, falando-lhe ora numa língua ora noutra, ensinando-lhe a história das nações e dos grandes homens que deixavam de vez em quando atrás de si um desses rastos luminosos chamados glória. O abade, homem do mundo e da alta sociedade, tinha além disso, nas suas maneiras, uma espécie de majestade melancólica de que Dantès, graças ao espírito de assimilação de que a natureza o dotara, soube extrair a polidez elegante que lhe faltava e os modos aristocráticos que habitualmente só se adquirem no convívio com as classes elevadas ou no contacto com homens superiores.

Ao cabo de quinze meses o buraco estava aberto. A escavação era feita por baixo da galeria. Ouvia-se passar e repassar a sentinela, e os dois trabalhadores, forçados a esperar uma noite escura e sem luar para tornar a evasão ainda mais segura, só tinham um receio: que o chão, demasiado delgado, abatesse por si mesmo debaixo dos pés do soldado. Obviou-se a esse inconveniente colocando como suporte uma espécie de vipazinha encontrada nos alicerces. Dantès estava ocupado a colocá-la quando ouviu de súbito o abade Faria, que ficara na cela do rapaz, onde se ocupava por seu turno a aguçar uma cavilha destinada a segurara escada de corda, chamá-lo em tom angustiado. Dantès regressou rapidamente e deu com o abade de pé no meio da cela, pálido, com a testa coberta de suor e as mãos crispadas.

- Oh, meu Deus! - gritou Dantès. - Que aconteceu, que tem o senhor?

- Depressa, depressa! - atalhou o abade. - Escute.

Dantès olhou o rosto lívido de Faria, os seus olhos rodeados por um círculo azulado, os seus lábios brancos e os seus cabelos eriçados, e ficou tão impressionado que deixou cair no chão o escopro que tinha na mão.

- Mas que se passa? - gritou Edmond.

- Estou perdido! - respondeu o abade. - Ouça-me. Vou ser atacado por um mal terrível, talvez mortal. O acesso aproxima-se, sinto-o. Já uma vez me atacou no ano anterior à minha prisão. Para este mal só há um remédio, o que lhe vou dizer. Corra depressa à minha cela e retire o pé da cama. O pé é oco e encontrará dentro dele um frasquinho de cristal meio cheio de um licor vermelho. Traga-o. Ou antes, não, não poderia ser surpreendido aqui. Ajude-me a regressar à minha cela enquanto disponho ainda de algumas forças. Quem sabe o que acontecerá durante o tempo que durar o acesso?

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 139

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069