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Capítulo 17: A cela do abade

Página 140

Sem perder a cabeça, apesar de ser enorme a desgraça que o atingia, Dantès desceu a galeria arrastando o seu infeliz companheiro atrás de si e conduziu-o, com infinita mágoa, até à extremidade oposta. Logo que entrou na cela do abade deitou-o na cama.

- Obrigado - agradeceu o abade, tremendo tanto como se acabasse de sair de água gelada. - O mal aproxima-se e vou cair em catalepsia. É possível que não faça nenhum movimento, que não solte nem um gemido, mas também é possível que espume, me retese e grite. Procure que não ouçam os meus gritos. Isso é importante, pois nesse caso talvez me mudassem de cela e ficaríamos separados para sempre. Quando me vir imóvel, frio e morto, assim dizer, somente nesse instante, note bem, me descerrará os dentes com a faca e deitará na boca oito a dez gotas desse licor. Talvez depois volte a mim.

- Talvez?! - gritou dolorosamente Dantès.

- Socorro! Acudam-me! - gritou o abade. - Morro...

O acesso foi tão súbito e tão violento que o pobre prisioneiro nem sequer teve tempo de acabar a frase começada.

Passou-lhe uma nuvem pela testa, rápida e escura como as das tempestades no mar, a crise dilatou-lhe os olhos, torceu-lhe a boca e congestionou-lhe as faces. Agitou-se, espumou, gritou.

Mas tal como ele próprio recomendara, Dantès abafou-lhe os gritos debaixo do cobertor. O ataque durou duas horas. Então, mais inerte do que uma massa, mais pálido e frio do que o mármore, mais quebrado do que uma cana calcada aos pés, caiu, retesou-se ainda numa derradeira convulsão e ficou lívido.

Edmond esperou que a morte aparente invadisse o corpo e gelasse até ao coração. Nessa altura; pegou na faca, introduziu a lâmina entre os dentes do abade, descerrou com infinito cuidado os maxilares contraídos, contou uma após outra dez gotas do licor vermelho e esperou.

Passou uma hora sem que o velhote fizesse o mais pequeno movimento. Dantès receava ter agido demasiado tarde e olhava-o, com as mãos enterradas no cabelo. Por fim, surgiu uma leve coloração nas faces do abade, os seus olhos, que tinham permanecido constantemente abertos e átonos, recuperaram a expressão, saiu-lhe da boca um suspiro fraco e fez um movimento.

- Salvo! Salvo! - gritou Dantès.

O doente ainda não podia falar, mas estendeu com visível ansiedade a mão para a porta. Dantès escutou e ouviu os passos do carcereiro. Eram sete horas e Dantès nem tivera oportunidade de calcular o tempo.

O rapaz saltou para a abertura, introduziu-se nela, recolocou a laje por cima da cabeça e regressou à sua cela.

Um instante depois a porta abriu-se e o carcereiro encontrou, como de costume, o prisioneiro sentado na cama.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 140

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069