Dantès nem por isso desistiu de alcançar uma dessas ilhas. Mas como encontrá-las no meio da noite que se adensava a cada instante à sua volta?
Nesse momento, viu brilhar como uma estrela o farol de Planier.
Dirigindo-se em linha recta para o farol, deixaria a ilha de Tibouien um pouco à esquerda; derivando portanto um bocadinho para a esquerda, deveria encontrar essa ilha no seu caminho.
Mas, como já dissemos, ia pelo menos uma légua do Castelo de If a Tibouien
Muitas vezes, na prisão, Faria repetia ao rapaz, ao vê-lo abatido e preguiçoso: «Dantès, não se entregue a esse amolecimento. Afogar-se-á se tentar fugir e não tiver os músculos bem treinados.»
Através das ondas pesadas e salgadas estas palavras vieram soar aos ouvidos de Dantès. Apressara-se então a vir à superfície e a fender as vagas para ver se efectivamente não perdera as forças. Verificou com alegria que a sua inacção forçada lhe não roubara nada da sua pujança e da sua agilidade e sentiu que continuava a dominar o elemento onde toda a infância brincara.
De resto o medo, esse rápido perseguidor, duplicava o vigor de Dantès. Inclinado sobre a crista das ondas, escutava se algum rumor lhe chegava aos ouvidos. Todas as vezes que se erguia na extremidade de uma vaga, o seu olhar rápido abarcava o horizonte visível e procurava penetrar na espessa escuridão.
Cada onda um pouco mais alta do que as outras parecia-lhe um barco em sua perseguição, e então redobrava de esforços, que o afastavam sem dúvida, mas cuja repetição rapidamente lhe esgotaria as forças.
Continuava porém a nadar, embora o castelo terrível estivesse já um pouco diluído no vapor nocturno. Porque apesar de o não distinguir, não deixava de o sentir constantemente.
Passou-se uma hora durante a qual Dantès, exaltado pelo sentimento da liberdade que invadira toda a sua pessoa, continuou a fender as vagas na direcção que se marcara.
«Vejamos», dizia para consigo, «há perto de uma hora que nado, mas como o vento me é contrário devo ter perdido um quarto da minha rapidez. No entanto, a menos que me tenha enganado no rumo, já não devo estar longe de Tibouien... Mas se me enganei?»
Um arrepio percorreu todo o corpo do nadador. Tentou deitar-se de prancha para descansar; mas o mar era cada vez mais forte e não tardou a compreender que esse meio de recuperar forças, com o qual contara, era impossível.
«Pronto, seja!», pensou. «Irei até ao fim, até os meus braços se cansarem, até às cãibras me invadirem o corpo, e depois deixar-me-ei ir ao fundo!»
E desatou a nadar com a energia e a velocidade do desespero.