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Capítulo 21: A Ilha de Tiboulen

Página 170

Lembrou-se então que não comia havia vinte e quatro horas: tinha fome e sede.

Dantès estendeu as mãos e a cabeça e bebeu a água da tempestade na cavidade de uma rocha.

Quando ia a levantar-se, um relâmpago que pareceu fender o céu até junto do trono deslumbrante de Deus iluminou o espaço. A luz desse relâmpago, entre a ilha Lemaire e o cabo Croisille, a um quarto de légua de distância, Dantès viu aparecer, como um espectro deslizando do alto de uma vaga para o abismo, um barquito de pesca arrastado simultaneamente pela tempestade e pelas ondas. Um segundo mais tarde, na crista doutra vaga, o fantasma reapareceu e aproximou-se com assustadora rapidez.

Dantès; quis gritar, procurou qualquer trapo que pudesse agitar no ar para lhes fazer ver que se iam despedaçar, mas eles próprios viam-no perfeitamente. à luz doutro relâmpago o rapaz viu quatro homens agarrados aos mastros e aos estais; um quinto mantinha-se agarrado à barra do leme quebrado. Aqueles homens que via e que o viam, sem dúvida, soltavam gritos desesperados, trazidos pelo vento sibilante, que lhe ferira o ouvido. No cimo do mastro, torcido como uma cana, batia no ar, em pancadas precipitadas, uma vela em farrapos. De súbito, as cordas que ainda a prendiam quebraram-se e ela desapareceu, arrebatada para as sombrias profundezas do céu, semelhante a essas grandes aves brancas que se desenham sobre nuvens negras.

Ao mesmo tempo, ouviu-se um estalido medonho e gritos de agonia chegaram até Dantès. Agarrado como uma esfinge ao seu rochedo, donde mergulhava no abismo, um novo relâmpago mostrou-se o barquito quebrado e no meio dos destroços cabeças de rostos desesperados e braços estendidos para o céu.

Depois, tudo desapareceu na noite; o terrível espectáculo tivera a duração de um relâmpago.

Dantès precipitou-se pelo declive deslizante dos rochedos, com risco de cair ele próprio ao mar. Olhou e escutou, mas não ouviu nem viu mais nada; tinham-se acabado os gritos e os esforços humanos. Só a tempestade, essa grande obra de Deus, continuava a rugir com os ventos e a espumar com as vagas.

Pouco a pouco o vento amainou e o céu cobriu-se para ocidente de grossas nuvens cinzentas e por assim dizer desbotadas pela tempestade. O azul reapareceu com as estrelas mais cintilantes do que nunca. Em breve, para as bandas do leste, uma comprida faixa avermelhada desenhou no horizonte ondulações de um azul-escuro. As vagas saltaram, uma claridade súbita percorreu-lhes as cristas e transformou as suas franjas espumosas em crinas de ouro. Nascia o dia.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 170

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069