O Conde de Monte Cristo - Cap. 1: Marselha - A Chegada Pág. 2 / 1080

- E a carga? - perguntou vivamente o armador?

- Chegou a bom porto, Sr. Morrel, e creio que a esse respeito ficará contente; mas o pobre comandante Leclère....

- Que lhe aconteceu? - perguntou o armador com ar visivelmente aliviado. - Que aconteceu a esse digno comandante?

- Morreu.

- Caiu ao mar?

- Não, senhor. Morreu de febre cerebral, no meio de horríveis sofrimentos.

Depois, virando-se para os seus homens:

- Olá, eh! - gritou. - Todos a postos para a ancoragem!

A tripulação obedeceu. Ato contínuo, os oito ou dez marinheiros que a compunham correram uns para as escotas, outros para os braços, outros para as adriças, outros para os cutelos e finalmente outros para as carregadeiras das velas.

O jovem marinheiro deitou um olhar breve ao começo da manobra e, vendo que as suas ordens estavam a ser executadas, tornou a virar-se para o seu interlocutor.

- E como aconteceu essa desgraça? - continuou o armador, retomando o diálogo no ponto em que o jovem marinheiro o deixara.

- Meu Deus, senhor, da forma mais imprevista! Depois de uma longa conversa com o comandante do porto, o comandante Leclère deixou Nápoles muito agitado; passadas vinte e quatro horas a febre atacou-o; três dias depois estava morto... Fizemos-lhe o funeral do costume e repousa, decentemente embrulhado no pano de uma maca, com um pelouro de trinta e seis aos pés e outro à cabeça, por alturas da ilha de El Giglio. Trazemos, para entregar à viúva, a sua Cruz de Honra e a sua espada. Valia bem a pena - continuou o jovem, - com um sorriso melancólico - andar dez anos a guerrear os Ingleses para no fim morrer na cama como toda a gente.

- Pois sim, mas que quer, Sr. Edmond - prosseguiu o armador, que parecia cada vez mais conformado -, somos todos mortais e é preciso que os mais velhos deem lugar aos novos. Sem isso não haveria progresso; e uma vez que me garante que a carga...

- ...está em bom estado, Sr. Morrel, asseguro-lhe. Aconselho-o a não negociar esta viagem com menos de 25.000 francos de lucro.

Depois, como acabassem de ultrapassar a torre redonda:

- Preparar para colher as velas da gávea, o cutelo e a bergantina! - gritou o jovem marinheiro. - Vamos! A ordem foi executada quase com tanta rapidez como num navio de guerra.

- Amainar e colher tudo! à última ordem todas as velas desceram e o navio avançou quase insensivelmente, impelido apenas pelo impulso que trazia.

- E agora se quiser subir, Sr. Morrel - disse Dantès ao ver a impaciência do armador -, aqui tem o seu guarda-livros, Sr Danglars, que sai do seu camarote e que lhe dará todas as informações que desejar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069