O Conde de Monte Cristo - Cap. 27: O relato Pág. 224 / 1080

O abade abriu a boca, permaneceu um instante como um homem que hesita, mas fazendo um esforço sobre si mesmo perguntou:

- E Mercédès? Garantiram-me que desaparecera...

- Sim, desapareceu - respondeu Caderousse -, mas como desaparece o Sol para surgir no dia seguinte mais brilhante.

- Quer dizer que também fez fortuna? - inquiriu o abade com um sorriso irónico.

- Neste momento, Mercédès é uma das maiores damas de Paris - respondeu Caderousse.

- Continue - pediu o abade. - Parece-me ouvir o relato de um sonho. Mas eu próprio já vi coisas tão extraordinárias que as que me conta me surpreendem menos.

- Ao princípio, Mercédès ficou desesperada com o golpe que lhe roubava Edmond. Já lhe falei das suas instâncias junto do Sr. de Villefort e da sua dedicação ao pai de Dantès. No meio do seu desespero atingiu-a nova dor a partida de Fernand, de Fernand cujo crime ignorava e que considerava um irmão.

«Fernand partiu e Mercédès ficou sozinha.

«Passou três meses a chorar, sem notícias de Edmond nem de Fernand, tendo apenas diante dos olhos um velho que morria de desespero.

«Uma noite, depois de estar todo o dia sentada, como era seu costume, no cruzamento dos dois caminhos que ligam Marselha aos Catalães, regressou a casa mais abatida do que nunca: nem o noivo, nem o amigo regressavam por um ou por outro desses dois caminhos e não tinha notícias de nenhum deles.

«De súbito, pareceu-lhe ouvir passos conhecidos. Virou-se com ansiedade, a porta abriu-se e apareceu Fernand com o seu uniforme de alferes.

«Não era o homem por quem ela chorava, mas era parte do seu passado que vinha ao seu encontro.

«Mercédès agarrou nas mãos de Fernand com um transporte que este tomou por amor, embora não passasse da alegria de já se não encontrar sozinha no mundo e de tornar a ver finalmente um amigo, após longas horas de triste solidão. E depois, deve-se dizê-lo, Fernand nunca fora odiado; não era apenas amado.

«Outro possuía todo o coração de Mercédès, mas esse estava ausente... desaparecera... talvez tivesse morrido. Sempre que lhe ocorria esta última ideia, Mercédès rompia em soluços e torcia as mãos de dor, mas tal ideia, que dantes repelia quando lhe era sugerida por outrem, acudia-lhe agora por si só o espírito. De resto, pela sua parte o velho Dantès não se cansava de lhe dizer: "O nosso Edmond morreu, porque se não tivesse morrido voltaria para junto de nós."

«O velho morreu, como já lhe disse. Se tivesse vivido, talvez Mercédès nunca se tivesse tornado a mulher doutro, pois ele estaria presente para lhe censurar a sua infidelidade. Fernand compreendeu isso.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069